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O desrespeito ao luto alheio

Desde o início da pandemia eu percebi que eu estava ficando com muita raiva e segundo a psicologia, o sentimento que mais tentamos segurar em dias comuns é o que mais aflora quando estamos nos sentindo em perigo.

Isso me preocupou e demorei para perceber que eu me sentia assim por vários motivos oriundos do luto, da forma como essa pandemia desorganizou toda a minha vida já que estava vindo de uma outra grande desorganização que foi a morte da minha filha e agora precisava fazer um novo arranjo. 

E isso cansa, escrevi sobre esses sentimentos há uns meses atrás e como eu falo de luto, escrevo sobre a dor de se perder alguém que talvez pudesse estar aqui hoje se a saúde mental não fosse tão negligenciada, se não tivesse tanto preconceito por doenças mentais, se os profissionais fossem melhor qualificados, se tivesse mais informações sobre o assunto, talvez tivesse mais ferramentas para ter evitado a morte da minha filha por suicídio e por isso falo sobre prevenção e posvenção.

Como existe a prevenção do Covid-19 que para evitar o contágio há necessidade do distanciamento físico, do uso de máscaras, e de higienizar as mãos, enquanto espera-se a vacina e tem pessoas que não se atentavam a isso e ainda atacavam quem o faz, isso me causou desconforto.

No começo entendi que a falta de informações bagunçou um pouco, mas com tempo me deparei com pessoas que não perceberam que cuidar de si na pandemia, fazendo essa prevenção era um ato de amor e vi que o amor tanto falado não era praticado e isso me causou uma grande revolta e muita decepção, pois muitos falam de valorização da vida mas não valoriza a vida dos outros.

Assim como no suicídio que necessita de políticas públicas para a sua prevenção no Covid-19 também há e muita e não se pode desqualificar qualquer vida e a morte seja ela por qualquer motivo, ainda mais sendo prematura, me deixava revoltada.

Fui trabalhando isso, afinal não há como mudar o outro e a raiva diminuiu e com tantas mortes, reparei que o luto pela morte por covid é muito semelhante ao do suicídio, cheio de culpa, de julgamentos, sem chance de despedidas, pois nem os funerais convencionais pode-se fazer e é um luto solitário devido ao distanciamento social.

A cada início de dia ver mensagens de alguém conhecido em luto por perder alguém amado e no final do dia o anúncio de números de mortos, que há tempos passam dos 1000 diários me esfriava por dentro. Impossível depois de mais de um ano de pandemia não ter perdido algum conhecido, perdi uma grande amiga justamente no mês mais letal de todos.

Com tanta Fake News, tanta desinformação, fui percebendo que o destilar de ódio no luto de algumas pessoas por outras que elas nem conhecem era gratuito e isso foi me entristecendo. 

Justamente um ano atrás, com a morte do ator Flávio Migliaccio vi o abismo ao qual nossa sociedade doente pelo ódio caminhava, mesmo com tanta coisa horrível acontecendo, tanto descaso, tanto rancor, tanto egoísmo, mesmo assim, busquei forças para não me deixar abater mais.

Quando o número de mortes chegou ao absurdo de 400 mil, o portal UOL fez uma matéria falando do luto, sobre os sentimentos das pessoas que perderam seus entes queridos e os comentários desta matéria eram os piores possíveis, ofensas a pessoas que já estão em sofrimento, um desrespeito a morte e pelo luto alheio, pelo motivo dos enlutados expressarem a revolta por não terem tido a ajuda que necessitavam, tendo que se expor ao vírus e com o contágio veio a morte e com isso a raiva ressurgiu em mim. 

E na a morte do Ator Paulo Gustavo que morreu por complicações do Covid-19, que comoveu milhões de pessoas esse desrespeito pela morte e pelo luto alheio me abateu, pois não teve como não ligar a morte dele e das outras milhares a forma desastrosa com que o governo vem conduzindo a pandemia e os ataques vieram de pessoas que não conseguem colocar o amor e o respeito ao próximo acima das preferências políticas.

Não há como medir dor, toda dor é legítima, toda morte nos diminui como sociedade e o fanatismo religioso, o preconceito e estigma que tentam calar o enlutado no caso do suicídio e agora o fanatismo político no Covid-19 só comprovam que a Marina tinha razão quando dizia que estava tudo errado.  

E por mais que me apegue na esperança, tem horas que é impossível olhar e ver alguma coisa boa em tudo isso, dizem que sairemos melhores depois dessa pandemia, mas os comentários só mostram o que cada um tem de pior e o desrespeito ao luto alheio que escorre pelas telas é reflexo de uma sociedade cheia de pessoas com feridas mal curadas e eu lamento muito por todos as vidas perdidas e pelos milhares de enlutados.

Ps. Eu escrevo o que penso e sinto.

9 Comments

  1. Mônica Atarian Vidoto disse:

    Terezinha
    Marina tinha razão, esse mundo está todo errado…
    Está muito difícil viver nesse caos!!!

  2. Vanuce Bento dos Santos disse:

    Tudo tão dificil,tão bagunçado!!!
    Bia dizia “não preciso de muito pra viver,tinha um olhar bem á frente!!entre tantos adjetivos,está o Sr.Respeito,o Olhar Humano para com o proximo!!!!
    Tenho Saudades Demaissssss

  3. Vanuce Bento dos Santos disse:

    Tudo tão dificil,tão bagunçado por dentro
    Bia dizia”não precisa de muito pra viver,entre tantos adjetivos,está o Sr Respeito,o olhar mais humano”.
    Tenho Demaissss Saudade…Te Amo Bia

  4. Gabriela disse:

    Chegando ao seu blog hoje.
    Perdi meu pai há um mês. A dor não diminuiu com os dias.
    Os dias não estão menos tristes.
    Estou procurando apoio dos que passaram e passam pela mesma situação.
    Apoio de terapia e medicamento e religião já tenho. Mas falta.
    Me falta o ar.

  5. Fábio disse:

    Sei o que está sentindo. Também fiquei órfão de pai. Tinha 6 anos quando ele se suicidou.

  6. Bernadette Vechia de Mendonça disse:

    Desrespeito ao luto alheio é o cúmulo da falta de empatia durante a pandemia. Pedi o distanciamento definitivo de 2 amizades por terem cometido esse desrespeito durante a pandemia. Perdi 29 pessoas queridas para essa doença nos últimos 2 anos e, mesmo assim, essas pessoas insistiam em postar aglomeração (festas etc), inclusive após saber das perdas dos nossos amigos. Fui voluntária na pandemia e ter visto esse comportamento desrespeitoso, que feriu muita gente que eu atendi, tem me fez repensar amizades.

  7. Bernadette Vechia de Mendonça disse:

    Referente ao meu comentário anterior: “tem me feito repensar amizades”.*

    • Andreia Paulinno Soares disse:

      Passei pelo mesmo, Bernadette Mendonça. Obrigada por levantar essa questão. Houve muitas mortes por Covid e suicídios na pandemia, mas as pessoas não estão nem aí.

      • Bernadette Vechia de Mendonça disse:

        Sinto muito, Andreia, de coração. Se fosse listar aqui todas as coisas atrozes que vi e tenho visto postadas durante esta pandemia, passaria muito tempo escrevendo, porque conheço gente que não apenas falhou por alguma insensibilidade no desrespeito ao luto coletivo, mas falhou por intenção mesmo nessas questões (para machucar mesmo, dando indiretas ou mesmo coisas direcionadas as famílias dos enlutados intencionalmente). A indiferença já é complicada, mas a perversidade é pior. Não uso mais redes sociais há anos por não querer presenciar esse tipo de perversão; os prós dessas ferramentas não chegam a compensar. Por isso, fiz questão de incentivar essa publicação.

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