A raiva no meu processo do luto
21/08/2019Ir além do Setembro Amarelo
22/09/2019E começou mais um Setembro Amarelo
E começou mais um Setembro Amarelo, mês da conscientização sobre a Prevenção do Suicídio, mês em que vários veículos de imprensa tentam levar informações sobre o tema, que nas redes sociais que participo, quase todos colocam a fitinha alusiva ao tema, girassóis e mensagens de otimismo, informações de como procurar ajuda, frases de estou disponível para conversar e ligue para o CVV 188.
Empresas contratando palestrantes para falar sobre Depressão, Ansiedade, Bipolaridade, Esquizofrenia e Suicídio, várias ações como lançamentos de livros, filmes, séries, caminhadas, monumentos iluminado com luz amarela e tudo mais que se é esperado neste mês onde se promove a Prevenção do Suicídio.
Fui solicitada para falar em alguns eventos, e me inscrevi em outros para ter uma noção de como estão abordando o tema, pois tem muita gente que não entende nada do assunto e em setembro sai repetindo como papagaio informações desconexas.
Fui um evento promovido pelo plano de saúde ao qual sou beneficiária que aconteceu no dia 03/09 aqui na minha cidade. Fui na intenção de ouvir, coloquei o lacinho amarelo no peito e cheguei no local com antecedência.
Quando a plateia foi direcionada ao auditório, a moça que organizava o evento começou a distribuir umas pranchetas contendo um formulário de autorização de uso de imagem e um questionário de avaliação do evento, e quando ela viu a fitinha no meu peito, falou que eu estava paramentada com o tema, e eu comentei que era ativista na prevenção do Suicídio.
Antes de começar, foi servido um lanche e quando os palestrantes chegaram, a moça falou sobre a fitinha no meu peito e que eles deveriam estar com uma semelhante e me questionou sobre o meu ativismo. Respondi que se fosse permitido, depois contaria minha história.
Mas antes de começar o evento, a moça começou a falar dos temas dos próximos encontros e comentou que justamente naquele dia não havia nenhum beneficiário convidado para contar da sua experiência, pois Suicídio era um tema muito difícil de ter quem topasse falar e então eu me dispus.
Colocaram uma cadeira onde me sentei, entre os dois palestrantes, uma psicóloga e um psiquiatra e começaram seguindo um roteiro e pela programação, o evento duraria no máximo 2 horas.
A moça da organização fazia as perguntas e os dois profissionais respondiam. Falaram das doenças que podem levar ao suicídio, os grupos de riscos e quando o psiquiatra falou que as famílias escondem os casos de suicídio por vergonha, pedi a palavra.
Ninguém ali fazia ideia da minha história, contei brevemente, sem muito detalhes, apenas enfatizei os maus tratos nos hospitais, e que não adiantava nada a empresa fazer um evento sobre suicídio se a própria não tinha cuidado com quem estava adoecido e precisando de ajuda e que contratava pessoas que acreditavam que suicídio é falta de Deus ou vontade de chamar a atenção.
Aos poucos as pessoas na platéia começaram a se manifestar, um casal contou que um conhecido que cantava com eles no coral da igreja, havia se matado dias antes, ele tinha esquizofrenia e eles nunca perceberam nada. A psicóloga falou da crença do senso comum de que quem é acometido por alguma doença mental, tem uma fisionomia e trejeitos diferentes.
O psiquiatra falou que pessoas portadoras de doenças mentais como a esquizofrenia, bipolaridade, depressão, ansiedade, quando tratados adequadamente, podem levar uma vida normal.
Um rapaz que usava andador e se locomovia com muita dificuldade, falou da falta de empatia e que a vida não tem receita de bolo, como muitos gostam de ficar falando. Faça assim, faça assado.
Uma senhora que chorava, contou que havia perdido uma filha atropelada e que desenvolveu depressão e bipolaridade e que tentou o suicídio por 2 vezes e que não era por falta de fé ou amor da família, era a doença e que sentia muita saudades da filha.
Um senhor que pensou em suicídio depois perder um emprego que era a sua vida, falou da dificuldade das pessoas em aceitar a depressão como doença.
Um outro rapaz que fazia capelania em presídios e escolas, falou da dificuldade de se abordar o tema, da ansiedade dos jovens em ser alguém na vida e pediu ajuda de como ajudar mais esses jovens.
Uma moça que tem depressão, falou que escondia seus sentimentos para não preocupar a família e que tinha uma sobrinha que se cortava.
A moça da organização, contou que sua avó materna havia se suicidado há 33 anos.
E o evento se estendeu por mais de uma hora do programado. No final recebi uma salva de palmas e muitos abraços. A moça da organização me disse que eu havia sido um presente para todos ali, pois mostrei o outro lado e toquei na importância de falar sobre os sentimentos que nos aflige.
Enfim, eu não havia programado essa fala mas não desperdicei a chance que me foi dada, penso o quão importante é ter mais ações como essas não só em Setembro mas em todos os meses do ano, que as pessoas ficassem mais solicitas e abertas ao diálogo e a escuta. Mas creio que passinhos estão sendo dados e que sementinhas devem ser plantadas.
E assim, começou mais um Setembro Amarelo.
10 Comments
Parabéns!!! Tenho participado de alguns eventos e acho que o depoimento de quem que vive o problema toca as pessoas de uma forma diferente. Sempre que tenho oportunidade de falar aproveito. Quando, apesar da dor, nos sentimos com força temos que falar, ser ativos neste processo de mudança. Um grande abraço.
Suicídio para mim e uma caminho sem volta penso todo santo dia tenho esquizofrenia tenho momentos de lucidez mais tenho momentos de perda total da realidade minha família ajuda mais não sabem como e difícil viver pensando em se matar achar que ninguém te intende mais tenho medo de matar e deixar a dor para quem amo mais vou aguentando ate onde der quando não conseguir mais nessa vida espero encontrar a paz
Oi,Boa Tarde,gostaria de saber se vocês se reúnem aos finais de semana!Muito Obrigado pela atencao,Joao Paulo
João.
Grupo de apoio aos sábados ocorrem no GASS CVV
Grupo – PINHEIROS
Reunião nos segundos sábados de cada mês
Horário: 14h30 às 16h30 | Local: Rua Cristiano Viana, 972, Bairro Pinheiros
Grupo – VILA CARRÃO
Reunião nos quartos sábados de cada mês
Horário: 14h30 às 16h30 | Local: Rua Pinhalzinho, 389, Bairro Vila Carrão
Grupo – GUARULHOS
Reunião no segundo sábado de cada mês
Horário: 14h30 às 16h30 | Local: Rua Otávio Nunes da Silva, 66, Vila Moreira
E Grupo de Apoio Vita Alere Vila Mariana, Clinica Integra
Reunião no último sábado de cada mês
Rua Bagé, 19 – Vila Mariana – São Paulo
Sábado – das 9:30 às 11:30hr
Para mais informações https://nomoblidis.com.br/grupos-de-apoio/
Espero ter ajudado.
Lindo!!! Que Deus abençoe você
Fernando, a Esquizofrenia é realmente uma doença seria. É necessário utilizar-se das medicações prescritas e não deixar de toma-las um
dia sequer. É necessário também o acompanhamento de um profissional da área de psicologia, para ajuda-lo a passar principalmente pelos dias de crise.
Não desista! Hoje pode estar difícil, mas amanhã é um novo dia.
As pessoas que te amam sentirão sua falta e sofrerão demais…
Olá! Me chamo Andréa Carlos e tenho 43 anos. Venho de uma família que sofria com o alcoolismo e dificuldades financeiras. Na minha infância minha família achava que eu não era normal. Eu tinha déficit de atenção e hiperatividade, por esta razão apanhava muito da minha mãe. Ela por sua vez vindo de família humilde, com grau severo de miopia nos olhos não obteve a oportunidade de estudar e entender melhor de como lidar melhor com os sentimentos dos filhos. Minha primeira tentativa de suicídios foi aos 14 anos após, uma mudança repentina de uma residência da qual me vi obrigada a deixar uma amiga vizinha inseparável por ocasiões de desentendimento de nossos pais. Ingeri várias cápsulas de remédios que eu nem lembro para qual tratamento estavam guardados na minha casa. Aos 18 anos eu achava que deveria perder a virgindade pois achava que poderia ser estuprada e com isso eu não me machucaria tanto. Aos 21 sem apoio do namorado e dos pais me senti obrigada a fazer um aborto. Aos 23 sofri um estupro por parte de uma pessoa que eu achava que era amigo e na verdade não valia nada, me drogou e me estuprou. Em outro relacionamento fui traída e estava grávida e abandonada. Tive que ser mãe e pai. Escolhi o amor ao meu filho que hoje cresce saudável e lindo. Aos 33 me de frontei novamente com a depressão e pensei em cometer o suicídio imaginando saltar da passarela na Av. Brasil no RJ. Com a ajuda de um amigo busquei apoio emocional o qual reativou a minha auto estima e consegui vencer a depressão. Sendo que 7 anos depois ela voltou e bem pior. Pois sinto: Dores, mal estar, fadiga, ansiedade, falta de apetite e o pior de todos a insônia. Voltei a ter apoio da minha antiga psicológica. E ajuda com psiquiatra e remédios. Espero vencer mais uma vez essa batalha…e que Deus me ajude.
Andréa, sinta-se abraçada. A batalha começou a ser vencida a partir do momento que você reconheceu que precisava de ajuda e a encontrou, e pelo seu relato você está no caminho certo, medicada, com apoio psicológico.
Espero que fique bem.
Querida Andréa, A LUTA com a depressão não é fácil, mas é totalmente possível. Não deixe de tomar as medicações para a depressão sem ordem medica; isso é um grande erro, porque o organismo sente a falta e você fica pior. Não deixe também sua terapia. Um dia de cada vez… é difícil mas de forma nenhuma impossível. Fica bem…
Querida, assisti a sua palestra na Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas. Parabéns pela luta e por compartilhar a sua experiência