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22/11/2017
Marina e Eduardo
Verbena
03/12/2017
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maus-tratos nos ps e utis

Maus-tratos nos PS e UTIs

Preconceito e maus-tratos nos prontos socorros e UTIs dos hospitais

O que se espera ao dar entrada em um pronto socorro com sua filha desacordada após ter tomando uma grande quantidade de medicamentos? 

Eu  esperava que  ao menos  no local  as equipes médica e de enfermagem  fossem capacitadas e pudessem dar a ela  um tratamento digno dispensado a qualquer ser humano. Mas infelizmente isso não aconteceu.

O não julgar e o fazer o possível para salvar vidas,  teoricamente é lindo, mas na prática não é bem assim. Principalmente quando  o paciente  atenta contra a própria vida, para algumas  pessoas da área da saúde, ele não merece muitos cuidados, afinal eles querem cuidar de quem quer viver, um suicida só dá trabalho, não merece tanta atenção e para o plano de saúde só gera custos, mas se esquecem que essas pessoas estão enfermas, depressão é um problema de saúde mas  para muitos, infelizmente, não é, pois o paciente  não apresenta uma ferida aberta, dor na alma não sai em nenhum exame. 

Não generalizando, mas falo do que vivenciei. Minha filha foi maltratada no serviço médico em que deu entrada com intoxicação exógena proposital e os maus-tratos prosseguiram até a UTI de outro hospital, onde ela faleceu. Eu ouvi piadinhas e insinuações tanto de enfermeiros quanto de  médicos.

Ao dar entrada no Pronto Socorro, a médica  plantonista não sabia o que fazer,  ela ligou para o centro de toxicologia para saber quais os procedimentos tomar, e a orientação foi de que deveria deixar a Marina em observação no soro para metabolizar o medicamento.

Do diretor  do pronto socorro, ouvi que a Marina  deveria ficar de castigo ajoelhada no milho, para não repetir o ato e me garantiu que ela estava sendo bem assistida e ao perguntar sobre a possibilidade dela ser transferida para outro hospital com mais estrutura, ele dizia que ali era o melhor lugar para ela.  Da chefe de enfermagem, levei bronca, mencionou que eu fui culpada, pois não devia ter deixado medicamentos em posse de minha filha. Fato que não ocorreu. 

No segundo dia em observação, Marina já reagia a alguns estímulos, abria os olhos quando a chamávamos, tentava balbuciar algumas palavras, parecia tudo bem até que o monitor cardíaco começou a apitar informando que algo estava errado, eu chamava o enfermeiro e ele em momento algum verificou se estava tudo bem com ela, dizia que o aparelho estava com problema, desligava e ligava novamente, nervoso,  levou um bom tempo até que outra enfermeira  percebesse que havia realmente algo estranho, no jargão médico, ela havia rebaixado e precisou ser levada para a UTI.

Já em outro hospital, a médica intensivista que a  recepcionou, perguntou o porque da demora em transferi-la para a UTI e explicou que essa demora havia prejudicado e muito o quadro de saúde e que o estado da Marina era grave. Um dia após dar entrada neste local, a unidade foi evacuada para pintura, e deixaram a Marina sozinha, com a sala sendo preparada e as paredes sendo descascadas e quando reclamei, um enfermeiro foi rude comigo e com meu marido.

Cinco dias depois, o médico responsável, sem fazer exames para verificar as condições dos pulmões de minha filha, a extubou e ela sem condições de respirar precisou ser entubada novamente, fazendo com que seu quadro clínico ficasse gravíssimo. Só depois foi solicitada uma tomografia que atestou um derrame pleural. 

Minha filha faleceu 20 dias depois de ter dado entrada no pronto socorro. No dia de sua morte, eu e o Joseval fomos chamados para conversar com o diretor do hospital, ele nos pediu desculpas e disse que sua equipe havia feito de tudo por ela, mas que infelizmente ela havia dado entrada naquele hospital com a vida comprometida, vinda de outro serviço, disse que sentia muito, mas que o corpo deveria seguir para o IML.

Para seguir para o IML precisou de um boletim de ocorrência onde consta, morte sob suspeita e na certidão de óbito, causa mortis indeterminada.

Sei que prevenção do suicídio é um caminho difícil, pois existem vários obstáculos, o tabu é somente um deles, a desinformação outra,  mas quando o suicida dá entrada em uma emergência, a chance dele sofrer maus-tratos é imensa, e falta de atenção e cuidados por parte das equipes de pronto atendimento, para mim é um dos grandes problemas, não há acolhimento, há desprezo e uma falta de conhecimento que me intrigou demais e me fez pensar muito.

Como profissionais da área de saúde levam para dentro de seus locais de trabalho os seus valores que ao invés de ajudar acabam atrapalhando?

Pois muitos acreditam que depressão não é doença, é frescura e falta de Deus, eu ouvi isso várias vezes.  Se esses profissionais que trabalham com pessoas em seus momentos mais frágeis, pensam e agem assim,  imagina quem não tem a menor noção disso.

Eu não esperava  encontrar no pronto socorro e no hospital especialistas em suicídio, esperava ao menos que eles fossem mais humanos e menos preconceituosos. Sei que medicina não é apenas para curar doenças e sim procurar aliviar o sofrimento, mas isso eu praticamente não vi nestes lugares por onde minha filha passou. Vi médicos de narizes empinados, arrogantes, com olhares duros e com raras exceções enfermeiros prontos a ajudar e a acolher. E justamente  esses enfermeiros contaram para mim e ao meu marido, histórias de amigos da área médica, que  se suicidaram, contaram um caso ocorrido naquele hospital e reconheciam que o problema é  sério, por isso acredito mais e mais que somente quando o problema te atinge, você passa a enxergá-lo de uma forma diferente. Eu fui atingida gravemente por ele e por isso estou aqui tentando fazer a diferença.

PS. Muitas pessoas me perguntaram sobre processar os médicos e hospitais, a princípio eu e o Joseval cogitamos, até procuramos advogados, mas pensamos bem,  nada vai fazer com que nossa filha volte. Não existe compensação monetária no mundo que possa pagar pela vida de nossa filha.  Então, decidimos que a melhor forma de fazer algo é contar a nossa história e levantar a bandeira para Quebrar o Tabu sobre o Suicídio, falar sobre a posvenção e  desmistificar a depressão, inclusive na área médica.

30 Comments

  1. Lu disse:

    Tentei suicídio a poucos dias. Me lembro apenas eu no banheiro e depois acordei no hospital. Meu namorado disse que a profissional da saúde pediu para que eu tirasse meu piercing para entubar e eu, não lembrando de absolutamente NADA, disse que não conseguia e foi quando ela falou que ia entubar mesmo assim e ia doer mais e azar seria o meu. Sinto dores no peito de tanta força que ela usou para “massagem”. Horrível.

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Lu, sinto muito. Por sua dor, por você ter passado por tudo isso. Sinto muito por ainda existirem pessoas que nos agridem em momentos que estamos mais frágeis.
      Lembre-se existe o CVV 188 que acolhe com a escuta quando não há com quem desabafar sobre o sofrimento.
      Caso ainda não esteja em tratamento com profissionais da área de saúde, procure por psicólogo e também por psiquiatra para melhor te avaliar e recomendar um tratamento adequado.
      Um grande e forte abraço.

      • Elaine disse:

        Trabalhei na lavanderia da Santa casa.a gente levava lençóis nos quartos.tinha uma moça no uti.novinha q tinha tentado suicídio.tava bem mal.perguntei pra minha amiga de serviço.q já trabalhava la.a muitos anos.pq não tão dando bola pra ela.ela respondeu;pq eles não gostam de suicidas.qd entram aq eles já fazem pouco caso.pq tem tanta gente lutando pra viver.e outros tentando se matar .fiquei chocado com aquilo.pq gente qd a pessoa chega nesse ponto e pq não ta nem mesmo

      • Magaly disse:

        Mas se oricessassem evitaria que outras pessoas passassem por isso, isso se chama justiça!!

        • Terezinha C. G. Maximo disse:

          Olá Magaly, obrigada por seu comentário. Optamos por não abrir processo pois o desgaste emocional seria muito grande. Optamos por falar sobre, educar e posso te dizer com toda certeza, que escolhemos o melhor caminho. Abraços.

        • Rosangela Russo disse:

          Sou médica psiquiatra e recordo-me que no CAPS que trabalhava chegou uma moça que veio encaminhada após internação de emergência, e que havia feito um grande corte no pulso direito. Teve que ser internada e veio encaminhada para o nosso serviço. Chegou dizendo que a enfermeira lhe falou que deveria ter cortado o pescoço, que no pulso não mataria, e que sua próxima tentativa seria no pescoço.
          Lento profundamente ler o relato dessa mãe, a unidade de emergência que seria o lugar ideal para dar um bom acolhimento e reverter uma tentativa futura, perde essa chance e amplia o risco de uma futura tentativa.

          • Terezinha C. G. Maximo disse:

            Rosangela, obrigada por sua mensagem.
            Justamente isso, quando não se acolhe uma tentativa de forma errada, o risco da próxima ser mais letal é muito grande, pois a maioria dos casos de suicídios ocorrem após uma primeira tentativa.
            E treinar e humanizar esses profissionais que atendem essa demanda é de suma importância, infelizmente isso não ocorre, os preconceitos são imensos.

            Abraços.
            Terezinha

          • Daniela disse:

            Já tentei umas 3 vezes e sofri a mesma coisa que a filha da Terezinha, minha mãezinha faleceu dia 26/08/2021 e juro que não tem um só minuto que eu não pense em acabar com tudo…
            Trato com psiquiatra desde 2014,e sinto que nada vai adiantar.
            Só estou prolongando meus dias,agora que perdi a pessoa que mais amo na minha vida, posso me desligar,somente eu sei o que sinto,o que eu estou passando e sempre me pergunto,porque viver?
            Se vou morrer um dia.
            Eu não gosto de viver,de abraços, de pessoas,de nada,e agora piorou tudo.
            Eu ainda pensava na minha mãe quando eu tentava alto extermínio, agora todos podem falar que é frescura, falta de Deus, falta de vergonha na cara,falta do que fazer,falta de tudo.
            Podem falar avontade logo logo não mais estarei aqui😥😥😥😥😥
            Me desculpe mas estou sufocada,preciso sumir,para acabar com isso que sinto.

          • Cláudia Fratini disse:

            Infelizmente dá pra contar nos dedos profissionais que se importam e demonstram aos pacientes que os entendem e sabem o quanto estão sofrendo.
            As reclamações de familiares e pacientes sobre médicos e outros profissionais do CPAS, não tem fim. A grande maioria dos pacientes não fazem questão de ir em consultas pq muitos médicos nem olham na cara do paciente, falando que não vão dar afastamento do trabalho para a pessoa ter ocupação, muitos não conseguem trabalhar, são demitidos, ou pelas faltas não conseguem ter salário suficiente para sobreviver, as questões financeiras e o julgamento dos colegas de trabalho e empregadoras são constantes e mais motivos pra piorar o quadro psicológico.
            Por todos esses motivos minha amiga cansou de tantos anos de depressão, julgamentos, condições precárias de sobrevivência pq doente psiquiátrico não são levados a sério, a família tb julga, “mais um dia não vai trabalhar, depois não quer ficar sem salário”. Peritos mais ainda, a pessoa precisa estar imunda, cheirando mal, sem cortar unhas, chapada de medicamento para manter o afastamento. Ou seja o doente psiquiátrico precisa perder a dignidade para acreditarem o quanto estão doente. Minha amiga detestava ficar suja e sem arrumar as unhas, até isso os médicos observavam, e chegaram a comentar que ela nunca deixava de arrumar as unhas, que todas as vezes ia com os cabelos molhado por ter lavado.
            Foram várias tentativas de terminar com a vida, mas como ela trabalhava na enfermagem, aí que o julgamento é maior ainda pq ela “sabe” como se mata mesmo, se quisesse. Então mais do que nunca as tentativas sempre foram consideradas para chamar a atenção.
            Depois de incansáveis tentativas de afastamento do trabalho, declarações que não aguentava mais o desprezo que os funcionários do serviço público, o caps tem sim profissionais com experiência e formação em psiquiatria, mas precisava ter mais do que isso, precisava ter profissionais que entendem e acolhem os pacientes psiquiátricos, não é um lugar que pode manter um funcionário só pq tem um diploma, precisam de funcionários com empatia acima de tudo.

            Para quem tem conhecimentos de enfermagem não deu chance do suicido dar errado. Não deu chance de ninguém mais dizer que era frescura, do médico não olhar na cara ou negar afastamento, não precisar ficar esperando retorno da família pra saber se estava melhor. De colegas de trabalho, chefia, dizer que não podiam contar com ela nos plantões. Não importaria mais o celular tocar o tempo por cobranças. Nem os “bons conselhos” de: “vc consegue, tanta gente com problemas piores, tanta gente com câncer, tanta gente na rua passando fome, tanta gente que perdeu toda a família”

            Tudo acabou!

            Não pq ela tinha certeza que a morte seria melhor, mas tinha a certeza de que não aguentava mais viver com os mesmos comentários, preconceitos e desprezo.

            Infelizmente ela cansou de viver!

            Sheila Jacubavicius partiu e faz muita falta pra quem a amava de verdade.

          • Terezinha C. G. Maximo disse:

            Cláudia.

            Sinto muito por sua perda e muito pela Sheila não ter conseguido a tão famosa empatia que muita gente fala que existe e tão poucos sabem verdadeiramente o que é.
            Tantos profissionais da área da saúde que não se compadecem da dor do outro como você descreveu, tem que perder a dignidade para ter um olhar mais atencioso ou ainda, um exame que comprove que a pessoa está realmente padecendo de algo que consome sua vontade de viver e que só é entendida depois que o pior acontece.
            Receba meu abraço.

    • Mari disse:

      Sinto a sua dor, mas espero e desejo profundamente que você nunca mais faça isso, pense como seria se vc perdesse um ente querido assim? Viva se não for por vc mas por quem te ama, não deixe está dor a ninguém, está dor é o pior do egoísmo. Entendo que quem já foi, não sabia e nem tinha dimensão disso, mas vc está aqui hj e vendo a descrição da dor dos que ficam. Resista, nada absolutamente nada é pior que está dor, mais fácil até mesmo matarmos um ente querido com um instrumento, do que o deixar com esta pena perpétua. Então não pense só em vc, viva para os que te amam, ainda que sejam da forma deles, nunca, jamais, tente outra vez, não terás outra chance, e coitada da tua família que é quem vai pagar eternamente por isso. Desculpa as palavras duras, mas é real.

      • Silvia disse:

        Confesso que me entristeceu ler isso. Sou enfermeira, e professora de saúde mental. Já passei por um período de depressão pós parto e um afastamento por depressão. Escondi de todos que pude. Como esperar que alguém que vc vê tratando mal pessoas na mesma condição seja capaz de acolher vc? Sentia uma vergonha enorme cada vez que tinha que ir na perícia e explicar pq me sentia assim. Torci para ter uma dor física, pq ninguém te pergunta pq vc fraturou o braço. Assim como vc, eu sempre ensino e procuro tratar meus pacientes com empatia. Quando digo que sei como eles se sentem é pq realmente sei. Estou trabalhando para formar outros profissionais que TB tenham essa visão.

      • Manuela Rocha disse:

        Oi! Nem sei o que dizer. Se te falar, não faça estarei sendo hipócrita porque também sinto esse impulso. Minha mãe também faleceu, meu pai está ficando senil, minha irmã mais velha tem artrose nos dois joelhos e agora, eu com 42 anos, sinto minha saúde física e mental estarem bem comprometidas. Também tenho artrose no joelho e recentemente machuquei o último osso da vertebra numa queda. Me sinto desamparada. Só tenho minha irmã e meu emprego. Tem um rapaz que eu gosto mas ele tem os problemas dele e não parece se importar muito, só se preocupar mesmo. A única coisa que me impede é o medo de morrer. Também sou cristã e isso ameniza a tendência suicida. Se precisar conversar, basta me chamar no facebook. Manuela Rocha.

    • Já ouvi tudo oque está no comentários .
      Um médico no hospital de Taubaté me disse que se quisesse se matar é para me jogar na frente do carro na avenida do hospital que era mais fácil que tomar remédio 😪.
      Outra vez o médico que dize que com 4 comprimido não faz nem efeito ,que tinha que tomar a cartela .E quanto fui para a emergência a enfermeira grossamente me disse: Se teve coragem de tentar se matar aguenta colocar uma solda para fazer lavagem estomacal e que se não quisesse fazer não iria morrer não só fui para dar trabalho..
      É assim que somos tratado em hospitais.
      Setembro Amarelo deveria ser para médicos clínicos e enfereiros saber que estamos com uma doença.
      Não é falta de Deus .
      Não é frescura.
      Isso se chama depressão

    • Ana disse:

      Sinto muito, tb tenho um filho que sofre com depressão. Não é fácil! Meus sentimentos

  2. Jane Célia Rodrigues disse:

    É lamentável o comportamento daqueles que se preparam para cuidar, para ajudar a curar! Que tristeza!

  3. Mari disse:

    Sinto a sua dor, mas espero e desejo profundamente que você nunca mais faça isso, pense como seria se vc perdesse um ente querido assim? Viva se não for por vc mas por quem te ama, não deixe está dor a ninguém, está dor é o pior do egoísmo. Entendo que quem já foi, não sabia e nem tinha dimensão disso, mas vc está aqui hj e vendo a descrição da dor dos que ficam. Resista, nada absolutamente nada é pior que está dor, mais fácil até mesmo matarmos um ente querido com um instrumento, do que o deixar com esta pena perpétua. Então não pense só em vc, viva para os que te amam, ainda que sejam da forma deles, nunca, jamais, tente outra vez, não terás outra chance, e coitada da tua família que é quem vai pagar eternamente por isso. Desculpa as palavras duras, mas é real.

  4. Ana Paula disse:

    Sinto muito por sua perda, ja tentei suicidio des dos nove anos mas nunca tive ninguem que me amasse, hoje aos quarenta e tres anos decidi quevou viver até onde Deus quiser, a dor ainda é horrível mas nao quero ter que viver assim novamente

  5. Alda disse:

    Sinto muito pela Marina. Agradeço por você compartilhar sua experiência, pois tive o desprazer de passar por situação semelhante.

    Há exatamente um mês atrás, tentei o suicídio tomando cinco caixas de medicamentos para a depressão e outros comprimidos que havia em casa (tenho depressão recorrente e meu então psiquiatra me dava amostras até a próxima consulta pois estou desempregada). Fui levada inconsciente para a UPA do Engenho Novo, na cidade do Rio de Janeiro. A partir do momento em que recobrei minha lucidez, apesar de não conseguir me movimentar, lembro muito bem que fui tratada pior do que um cachorro. Aliás, que fique claro, nenhum humano ou animal merecem passar o que passei.

    Tenho cabelos bem curtos e ouvi um médico cheio de pose e nariz empinado se referir a mim como “sapatinha”. A médica que analisou meu exame de sangue disse que eu não tinha nenhum sinal de diazepan e perguntou como eu explicaria aquilo? Insinuando que eu queria apenas chamar a atenção. Mais tarde, ela passou conversando com outra próxima ao box onde eu estava já na cadeira de rodas e a ouvi falar “não tinha nada de diazepan. Conheço bem esses tipos”. Que tipos? Tipos de médicos vagabundos que não gostam de trabalhar no carnaval, como ela? Ou tipo de gente desumana e burra a ponto de imaginar que alguém chega morrendo numa UPA só pra receber atenção? Felizmente não, obrigada. Sou técnica em eletrônica e acho que trato máquinas e componentes com mais dignidade do que esses desgraçados tratam um ser humano. Em situação de extrema vulnerabilidade, diga-se.

    Me levaram ainda, a um quarto cheio de pacientes amarrados em camas onde creio ser a ala psiquiátrica daquela espelunca. Ali um médico ameaçou me amarrar e me dar “Haldol”, medicamento conhecido como sossega-leão. Felizmente, ainda tive condições de falar que eu estava ali porque era depressiva recorrente mas não era louca. Que poderia comprovar com um laudo que estava em minha casa inclusive. Não sei como, mas felizmente, desistiram da idéia. Desumanidade é pouco. Eu não podia andar, minhas pernas estavam imóveis e pronunciava as palavras com a voz pastosa. Mas minha consciência estava normal, a ponto de perceber com quem eu estava lidando e o tratamento indigno que recebia. De raiva, deixaram meu braço todo roxo de hematomas sob pretexto de não encontrarem minha veia. Humilhante. Nojento. Mereciam um processo. Me faz mal só de lembrar.

    Para completar, uma profissional que não sei se é médica ou enfermeira, disse que eu estava com anemia. Mas não tive acesso ao meu exame nem tampouco me prescreveram medicação alguma. Fui pesquisar na internet e estou me tratando por conta e risco com Combiron.

    Enfim, um lixo de atendimento. Estou viva hoje pela misericórdia Divina porque se fosse por esta equipe de merda, com o perdão da palavra, estaria morta. Gente desumana, sem alma. A única exceção foi o último médico que me atendeu e colocou no soro. Não sei nomes mas este usava um uniforme listrado, diferente dos demais e era o único com um pingo de humanidade naquele antro. Realmente, os maus tratos a quem atenta contra a própria vida é real e eu tive a infelicidade de experimentá-los. Cheguei a esta página buscando relatos sobre o assunto pois imaginei que por estar sem um parente fui destratada. Não desejo a ninguém o que passei. Como não tenho família dependi que um vizinho fosse como acompanhante. Infelizmente, por falta de sorte, ele era tão estúpido ou mais que toda a equipe e isso também não ajudou em nada. Lembro e sinto nojo. Jamais imaginei ser tratada daquela forma. Não são médicos, são sádicos, psicopatas de jaleco.

    Não sou rude em meu dia a dia, estava em um momento de profundo desespero e durante minha vida foram várias as tentativas de me matar. Mas certas mentalidades, apesar de passarem por cursos universitários, são muito pequenas e limitadas para acolher e compreender o ser humano em sua complexidade. As dores que acometem nossa alma, coisa que falta nesses “profissionais”. Lamentável e muito triste.

    Abraços.

    • Aline Klug disse:

      Oi, tudo bem? eu me interessei muito pela história! Faço parte de uma ONG de estudantes de medicina (IFMSA) e queria realizar uma palestra online sobre esse tema. Gostaria de saber se a senhora gostaria de contar o relato em uma palestra, junto a um médico que falará sobre o assunto também. A palestra seria dia 6/11/2020.

      Aguardo a resposta. Obrigada! meu email para contato: alineklugp@gmail.com

    • Ana Flávia disse:

      Sinto muitíssimo que tenha passado por isso! Totalmente justificável a sua revolta, não poderia ter se expressado melhor. Espero que esteja bem ou, ao menos, melhor hoje em dia.

  6. Aqui é a , Cristina Nunes eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

    • Yasmim Veloso disse:

      Eu sofri agressões físicas e me deixaram nua várias vezes…eles me chamavam de otária e me mandavam atirar na cabeça…foi no upa santo amaro…estou com estresse pós traumático e n sei o que fazer mais pra aguentar…me drogaram várias vezes até eu ficar dormindo por dias…

  7. Yasmim Veloso disse:

    Eu sofri agressões físicas e me deixaram nua várias vezes…eles me chamavam de otária e me mandavam atirar na cabeça…foi no upa santo amaro…estou com estresse pós traumático e n sei o que fazer mais pra aguentar…me drogaram várias vezes até eu ficar dormindo por dias…

  8. Aline Klug disse:

    Oi, tudo bem? eu me interessei muito pela história! Faço parte de uma ONG de estudantes de medicina (IFMSA) e queria realizar uma palestra online sobre esse tema. Gostaria de saber se a senhora gostaria de contar o relato em uma palestra, junto a um médico que falará sobre o assunto também. A palestra seria dia 6/11/2020.

    Aguardo a resposta. Obrigada! meu email para contato: alineklugp@gmail.com

  9. Luciano disse:

    E ser a gente unisse e movemos uma luta contra este descaso nós hospitais ups em gente não podemos deixar isto sabendo que neste momento tem pessoas precisando da gente

  10. Ótima postagem. Estou visitando constantemente este
    site e estou apaixonada! Dicas e posts muito legais.
    Obrigada, já virei sua leitora 😉

  11. Marcos disse:

    Parabéns pelo conteúdo deste blog, fez um ótimo
    trabalho!
    Gostei muito.
    um grande abraço!!!

  12. Parabéns pelo trabalho!

    Desejo-lhes sucesso.

  13. Jessica Jacob disse:

    Fui pro hospital com muita falta de ar, tava com uma dor no peito insuportável e chorando por isso. Todo os enfermeiros que passavam por mim, passavam direto. Até que finalmente uns de bom coração me levaram pra sala de medicamentos, fui tratada “bem” mas as brincadeiras e descasos estavam lá. “É ansiedade isso aí, a saturação tá boa, vai passar” um enfermeiro, notou que meus batimentos estavam muito baixo. 40 por minuto se não me engano. Ele começou a ficar preocupado. Até porque ansiedade acelera o coração. Bom, me colocaram no oxigênio e o ar começou a entrar, minha mão e rosto pararam de formigar e eu estava bem.
    O médico veio, eu estava com a minha esposa, realmente tenho umas crises e não posso ficar sozinha, mas ali não era. Enfim, o médico veio e disse para minha esposa sair, ela não podia ficar me acompanhando, sou maior de 18. Ela comentou sobre meu quadro psiquiatrico. Pronto, foi ali que começou de verdade. Piadinhas, descaso… Eles precisavam de uma confirmação que minha falta de ar não era grave e “era coisa da minha cabeça”. Mas tá, eu fiz exames, meu eletro tava horrível… No fim eu testei positivo para COVID-19. Quando fui passar com o médico, havia mudado o plantão então eu vi outro médico me olhando com tom irônico… ” Tá morrendo Jéssica?”

    Eu juro. Eu queria responder, gritar, quebrar tudo. Que tipo de pergunta é essa? Eu tava com dor, se ele achava que era coisa da minha cabeça por ansiedade ou crise de Pânico, é essa a pergunta a ser feita? É com essa ironia que se trata uma pessoa que supostamente está achando que vai morrer?

    Ele me deu alta. Disse que se por um acaso eu realmente sentisse falta de ar, era pra voltar.

    Eu tive falta de ar, mas eu não voltei. Porque não quero ser humilhada ouvindo piadinhas em que minha saturação tá melhor que a da enfermeira.

    Eles desencadearam uma crise ali, que não existia. Simplesmente pelo preconceito com uma dor que ninguém pode ver.

    Minha dor era física, eu tava ali sentindo a falta de ar. Mas ela se tornou emocional, porque mais uma vez, eu fui ao hospital pedir ajuda, mas era tudo da minha cabeça.

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