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O luto do filho único - Posvenção de Suicídio

O luto pelo filho único

No começo do meu luto, eu sentia um desconforto ao ouvir algumas frases, a intenção das pessoas era de me fazer pensar positivo, mas sentia que ao invés de acolher a minha dor, de validá-la, essas frases na verdade, faziam o trabalho contrário, invalidavam o que eu sentia e eu ficava mais confusa com tudo que estava acontecendo.

Lembro que ainda no velório da minha filha, algumas pessoas me disseram que como eu tinha outro filho, que eu devia me apegar a isto e me afirmavam que era sorte minha, ela não ser a filha única.

Eu ouvia, agradecia o carinho, mas depois me vinha uma confusão de pensamentos, estas palavras me faziam pensar que eu estava sendo ingrata ao lamentar a morte dela e de que automaticamente, tendo outro filho, teria que amá-lo ainda mais, pois vagou um lugar no meu coração e na minha vida.

E com o passar dos dias passei a ficar irritada quando alguém me falava:

  • Ainda bem que ela não era filha única, ou
  • Já pensou se ela fosse sua única filha?

Passei a repetir, que para mim é a mais sábia explicação sobre isto e que eu ouvi justamente de uma mãe que teve apenas um filho:

“Uma mãe pode ter dezenas de filhos, mas se ela perde um, ela sofre pela perda do seu único filho, todo filho é único, ela vive o luto pelo filho único”.

Conheci nesta minha jornada, inúmeras mães e pais que tiveram um único filho e com a morte deste filho, ouvi destes pais que a vida ficou sem sentido, mas que eles continuavam buscando viver da melhor forma possível, honrando a vida dele, apesar de toda dor de ter que sepultar um filho.

Comparando com alguém que teve apenas um filho, pode parecer simples lidar com a perda de um tendo outros, e é fácil ter soluções para problemas alheios e comum tentar curar a dor do outro sem saber o tamanho dela.

Mesmo tendo outro filho, a Marina era minha única filha, pois cada filho é único, meu filho tem o meu amor e o meu cuidado, sempre teve e sempre terá, mas nunca substituirá a minha filha, pois um filho nunca irá substituir o outro.

Enfrentar um luto por uma morte prematura na família, não é fácil e acredito que o peso fique muito maior quando é por suicídio, e como já aprendi e não canso de repetir em minhas falas e nos meus escritos, que até virou um mantra, “ luto não é igual”, cada familiar tem sua forma de vivenciá-lo.

Tento me colocar no lugar dele, pois ter os pais em um sofrimento imenso sem poder sair do lugar, podendo até não dar conta de que ele perdeu a irmã e que ele também sofre, fora a preocupação e o esforço que faz e não conseguir apaziguar a nossa dor.

E eu e o Joseval, desde o início, tivemos essa preocupação de não deixá-lo esquecido como filho, nunca o deixamos de lado e acreditamos que ao cuidar do nosso luto, ao cuidar de nossa ferida, estamos automaticamente, cuidando dele.

Tentamos ao mesmo tempo, não sobrecarregá-lo, não sufocá-lo, pois, após uma morte trágica e cheia de mistérios, é comum que o pensamento do enlutado se volte todo para os ses e porquês e pode ser que isso sugue a pouca energia que resta e também, é natural que o medo de que o fato se repita, seja constante.

Procuramos respeitar o espaço dele, temos o nossos momentos juntos e que buscamos ser o mais saudável possível e devido a nossa disposição de falar do luto, de manter o blog, os conteúdos nas redes sociais e as reuniões com o grupo de apoio, fazemos isso com horários e em espaços que não atrapalham esses nossos momentos.

Acredito que luto está sendo incorporado em nossas vidas e muitas pessoas podem até supor por falar em luto eterno, que me agarro ao sofrimento, mas não é assim, a vida de um filho nunca será apagada da vida de seus pais, e a dor da perda é presente, porém estou aprendendo ao longo desta jornada a lidar com ela.

Vou tentando não deixar que a dor domine meus dias e que não apague as  chances de viver uma vida aproveitando o que de bom ela ainda pode me oferecer e assim, vou deixando o amor fluir de diversas formas. 

E todas as vezes que escuto que: 

  • Ainda bem que ela não era filha única.

Respondo:  

  • Todo filho é único!

1 Comment

  1. Marcia Maria Sacchi disse:

    Amo vocês 🤗

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