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Empatia | Nomoblidis | Posvenção do Suicídio

Photo by Josh Calabrese on Unsplash

Empatia

Para me ajudar na compreensão do luto eu escrevo, pois consigo encontrar na escrita um escape já que falar sobre o assunto nem sempre há quem queira ouvir e o papel aceita tudo.  E depois que decidi publicar minhas escritas os textos estão sendo compartilhados por várias pessoas, o que me deixa de certa forma satisfeita pois compreendo a importância de se falar, ouvir ou ler sobre um tema tão Tabu como este e mostrar o outro lado do suicídio, o de quem fica.

Percebi que muitos que leem são pessoas enlutadas, outras são profissionais da área de saúde mental, psicólogos que abordam a temática de forma séria e por algumas pessoas simpáticas à causa de sofrimento humano, não digo empáticas, pois empatia é algo doloroso e que não se encontra em qualquer lugar e em qualquer pessoa, não há dúvidas que existem pessoas empáticas, o CVV é um desses lugares onde a empatia emana.

Acredito que  empatia salva vidas, se alguns profissionais principalmente aqueles que antecedem e participam direta e indiretamente dos cuidados da pessoa que atenta contra a própria vida compreendessem que nem toda doença sai em exames, talvez a realidade de muitas pessoas seriam outra. 

Minha filha  foi uma dessas pessoas que não despertou empatia pelos profissionais que a atenderam quando  demos entrada com ela no Pronto Socorro, e nem meu desespero de mãe foi capaz de comovê-los.  E fiquei horrorizada com o despreparo dos profissionais destas áreas para lidar com quem tenta o suicídio.

Eu já escrevi sobre isso e por várias vezes tentei conversar e explicar o meu ponto de vista para pessoas que trabalham em UTIs e Prontos Socorros e fui mal interpretada, as pessoas com as quais falei não se importaram e como havia percebido, os preconceitos  que essas pessoas carregam são maiores que o juramento de cuidar e ajudar quem sofre, não aceitam, não compreendem que uma pessoa com ideação suicida é uma pessoa enferma.

Mas com o tempo fui percebendo que a raiz deste mal está justamente por ignorância, por se falar do suicídio de forma simplista atribuindo apenas uma causa ao fato, os meios de comunicação que usam do sensacionalismo para divulgar os casos e o preconceito e julgamentos que estão em todos os lugares  inclusive em locais onde deveriam formar essas pessoas,  ensinar a achar as causas e ajudar não é fácil, mais fácil é julgar e essa prática passa também por religiões que pregam que depressão é uma questão de fé e que doenças mentais são atribuídas a espíritos. 

Eu assisti pela internet várias videos sobre o tema, ouvi líderes religiosos falando absurdos, mas o que me chamou mais atenção foi uma professora dando aula sobre suicídio para futuros psicólogos dizendo para os alunos que as mães de adolescentes que se mutilam não prestam atenção nos filhos, julgando as pobres mães que na sua maioria devem se desdobrar para dar conta de tudo, esquecendo que ninguém é onipresente, afinal a automutilação tem seus motivos e assim como o suicídio é multifatorial. Espero que este seja um caso isolado mas me preocupou muito o nível de profissional que está saindo de certas faculdades  e indo para o mercado.

E essa semana, li em um dos vários compartilhamentos do meu último texto, uma pessoa que trabalha em uma UTI comentando que está assustada com o grande número de pessoas que tentam suicídio por motivos bestas, que ela nomeia como fins de relacionamentos, não aceitação da homossexualidade por parte da família e por doença terminal.

Eu entrei no perfil desta pessoa e enviei uma mensagem explicando que não se trata de motivo besta, afinal o que para mim pode ser bobo, para o outro é o fim do mundo e que na maioria dos casos há por trás destes atos uma doença, depressão é a mais comum, mas muitos outros fatores podem desencadear uma crise, a gota d’água pode ser um fim de relacionamento, mas em geral o copo já estava cheio e a gota o fez transbordar e que muitas vezes as pessoas não falam de suas angústias e sentimentos devido aos julgamentos como o dela e muitos só vão saber que estão com depressão ou outra doença mental após alguma tentativa.

A pessoa me respondeu e pediu desculpas, alegou que tem depressivos na família e que não soube se expressar e que tentará ter mais cuidado daqui para frente.

Este foi somente um caso,  e hoje resolvi escrever sobre isso pois são muitas histórias que ouvi nestes um ano e 11 meses sobre como são tratados as pessoas que tentam o suicídio e os familiares, inclusive casos de policiais que maltratam famílias de pessoas que se mataram, e que ao invés de acolher neste momento de grande dor e desespero, fazem acusações precipitadas, tratam com rispidez e truculência quem já está fragilizado e sem chão, aumentando ainda mais o trauma.

Não estou aqui para julgar ninguém, pois trabalhar nestes cenários é um tanto desafiador e estressante, gostaria apenas de sugerir que aprender nunca é demais, algumas atitudes muitas vezes são por falta de conhecimento, como o da moça que trabalha na UTI com a qual falei, que me disse que não sabia que depressão poderia desencadear o suicídio.

E também não estou dizendo que todos esses profissionais deveriam ser empáticos, pois empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro e é uma competência e não um sentimento. Empatia se pratica, se aprende. É a capacidade de ouvir e não julgar. Empatia é algo que quanto mais se dá, mais se tem. E só se pode dar aquilo que possui.

Vejo isso em grupos de pessoas com ideação suicida, onde a maioria das pessoas que pedem ajuda são amparados por pessoas que passam pelo mesmo e assim tem sido nos grupos de apoio aos enlutados tanto virtual como presencial e só sabe da dor quem passou por ela.  

6 Comments

  1. Ligia Mastrangelo disse:

    Terezinha, é tão devastador esse despreparo. Para ter um mínimo de respeito nesa hora, eu precisei apelar para a proprina. Paguei! Aos bombeiros, aos PMs ao agente funerário.
    E me senti invadida.
    Minha filha não tem uma certidão de óbito como suicida. E me sinto péssima de deixar os “índices “ mais errados do q já são.
    Precisamos cobrar essa visibilidade. Essa formação de mão de obra, desses atendimentos. Precisamos nos tornar mais visíveis para q a pesquisa nesse assunto aumente. Para q outras mães não passem pelo q nós passamos.

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Lígia, sinto muito por sua perda.
      E sinto muito também por todo esse despreparo e que chega a ser desrespeito. Eu bato na tecla que ninguém é obrigado a entender de nenhum assunto, pois é humanamente impossível, mas respeitar o outro deveria ser natural.
      No caso de pessoas que não atuam nestes áreas eu até entendo, mas pessoas que trabalham diretamente com vidas fragilizadas deveriam adotar esse critério, mas enfim isso é uma utopia.
      Sei que os índices estão errados pois existem centenas de casos que não entram para as estatísticas devido ao medo de julgamentos que a família tem e me assusta muito saber que “profissionais” da área alimentam esses julgamentos e alguns são os primeiros a despeitar normas e diretrizes de órgãos como a OMS veiculando e distorcendo certas afirmações e recomendações.
      Enfim, é um trabalho difícil e a nossa visibilidade é mínima mas se faz necessária.
      Um grande abraço.

  2. Paula Coelho disse:

    O preconceito é tão grande que assusta. Uma vez pedi oração a uma mulher para minha sobrinha que está desde 30/9/18, por tentativa de suicídio, ela disse que não iria ao hospital orar pq Deus não falou nada com ela, que Deus abomina o suicidio e que ela teria que sofrer um bocado

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Paula, sinto muito pelo ocorrido.
      Infelizmente isso é recorrente, muitas pessoas não entendem e julgam que tenta e quem se suicida. Não entendem que a pessoa possui uma enfermidade. E pior saem falando sem ter compaixão dos familiares.
      Enquanto houver esse tipo de preconceito, muitos irão sofrer.
      Por isso falar é preciso para tentar quebrar esse tabu que envolve o Suicídio e todas as suas consequências.
      Um grande e forte abraço.

  3. Dinane da Silva disse:

    No dia 08 de Maio de 2019, pior dia da minha vida meu pai se suicidou quando cheguei no local veio uma policial muito mal educada e me entregou os documentos deles mas eu não estava entendo nada tinha acabado de chegar perguntei o que o que esta acontecendo ela foi muito grosseira. Eu estava em choque sabe me senti pior ainda depois que falei com ela.
    As pessoas acabam tratando a família como se fossem doentes ou culpados pela morte da pessoa e muitas pessoas se afastam…
    Mas quando fui até a delegacia para pegar papeis e as coisinhas do meu pai o delegado foi uma pessoa incrível ele me chamou na sala dele e começou a conversar comigo como se ele fosse um psicólogo sabe depois de um bom tempo conversando me contou que havia passado por uma perda para o suicídio sua filha havia tirado sua própria vida, então percebi que infelizmente o suicídio é um tabu e que as pessoas não estão nem interessados em saber sobre o assunto.
    Como se a dor do outro não importasse, como se a pessoa se suicidou a gente tem que simplesmente seguir a vida normal chegam a dizer que foi uma escolha “dele”, isso não existe eu sei que ele estava sofrendo e só quis matar a dor que estava dentro dele..
    Eterna saudades meu pai
    em um dia perdi meu pai, meu melhor amigo, meu porto seguro

  4. elma disse:

    Não acredito que o tratamento desumano e preconceituoso está relacionado ao fato tabu do suicídio. Para mim, ele está ligado a despreparo, falta de conhecimento e cultura de forma geral. Policiais mal preparados desrespeitam quaisquer famílias, não é um privilégio de quem tem enlutados ou suicidas, profissionais da saúde, do direito, da comunicação e de qualquer outra área idem. É muito mais profundo. É como outros pontos que têm sido fortalecidos na nossa cultura, seja o machismo ou o feminismo, por exemplo. Além disso, existe uma pré-expectativa de que ser empático é sentir o que o outro sente. Isso realmente é possível? Podemos mesmo sentir o que o outro sente? Uma pessoa que sente vontade de morrer sabe mesmo o que é essa vontade em outra pessoa? Não acredito nisso. Mas esperamos muito isso para nós e não fazemos o mesmo para os outros. O que passa, no coração e na alma, o que viveu, como foi treinado, como é a condição de trabalho das pessoas que “não são” empáticas? Que obrigação é essa que nos damos e que exigimos de outros “entender o que sentimos”? Não pensamos no que o outro sente, no que o outro passa, no que o outro está vivendo, mas queremos ser “bem recebidos, acolhidos”. Acho que é um vício da sociedade materialista, que tudo quer e tudo tem a todo tempo, mesmo que isso seja para minorias, enquanto as maiorias sofrem restrições profundas do básico. Mas, voltando à empatia…. E se naquele momento, o que a pessoa está oferecendo é o melhor que ela tem, e se o que ela oferece é o melhor tratamento que já recebeu na vida , a melhor condição emocional que tem, a melhor qualidade de emoção que tem dentro de si? E se ela mesma for um suicida, um tentante, um enlutado, um estuprado, um psicopata, um demente, um sofredor de qualquer outra coisa, lutando para estar ali a fazer alguma diferença na própria vida e na vida de outros? Esse tema “empatia” é muito exigente. Também vejo nos grupos de apoio que os que se apoiam são os que vivem dores que talvez se assemelhem de alguma forma. Eu, em momentos de crise, preferi evitar esses grupos. Em raras tentativas que fiz, sai pior do que entrei. O CVV muitas vezes parece um jogo na loteria. Há aqueles que recebem para ouvir, há os que recebem para “catequizar em nome da existência”. Abandonei esses caminhos, e fui em busca de quem tinha lentes diferentes das minhas. Não por falta de empatia com os outros, mas por empatia comigo mesma. Eu não queria fortalecer a minha dor com a dor do outro, não queria um consolo de “grupo de semelhantes” – e não estou dizendo que esse é o motivo das pessoas se reunirem em torno de temas semelhantes – não queria reforçar a ideia de que “tudo está ruim é para todo mundo”. Naquele momento, queria conseguir me enxergar e me entender de forma diferente, pois sabia que só estando forte poderia me ajudar e – quem sabe – ajudar outros. E isso foi fundamental, entender que não existe “um caminho”, que há pessoas que se sustentam vivas só porque têm certas dores, que há quem não queira sair da dor, há quem queira e não consiga. Não existe caminho único. É preciso muito anteconhecimento e, especialmente, objetivo para ir além e empatia, para saber que cada um faz suas escolhas.

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