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Ivo Oliveira Farias

DEPOIMENTO:  O pior luto

No dia 13 de março de 2014, dia do Arcano da morte segundo a minha religião, minha filha mais velha, de 18 anos, nos deixou. Naquela quinta-feira, ela almoçou comigo, pediu um suco de manga e conversou normalmente. Deixei-a na casa da mãe com o combinado de nos encontrarmos no final da tarde, perto das 19 horas, que é a hora em que meus outros dois filhos chegam da escola. Minha filha de 16 anos chegou 10 minutos mais cedo e viu a cena. No início ela achou que não era verdade, já que o corpo estava semi apoiado na escada. Eu cheguei na sequência, ela já gritando, meu filho também, chegando da perua.
Ivo-Farias

Ivo Oliveira Farias , pai de vítima de suicídio: “A culpa de quem fica nos acompanha até o fim da existência”. – Divulgação

Eu a peguei, a outra filha cortou a corda, o pequeno tirou os óculos, e tentei reanimá-la. Ela se matou falando no WhatsApp, sem explicação. Ela calculou tudo: foi no dia em que sabia que eu estaria lá porque é o dia da semana que eu sempre passo na casa deles. Ela já tinha feito vestibular para Direito e concurso de técnico judiciário, estava só esperando as respostas. Ela deixou um bilhete, que diz basicamente que ninguém tem culpa, que ela não aguentava mais. Terminou com uma frase destacada: “gente morta não decepciona ninguém”.

No bloco de notas que encontramos havia o desenho de um laço e, como ela já foi escoteira, fez dois laços de tal forma que demorei a soltar do pescoço. O livro de escoteiro estava fora do lugar, e depois descobrimos que havia um bonequinho enforcado no quarto dela. Sinais que só fiquei sabendo depois. Ela não sofria de depressão, ainda não conseguimos entender por que ela resolveu fazer isso.

O luto do suicídio não acaba nunca

Eu era o pai herói, fiz o parto dela, fui a primeira e última pessoa que ela viu na vida. A primeira palavra que ela falou foi “papai”. Era meu orgulho. Às vezes ainda ouço a sua voz. O luto de uma morte natural ou acidental uma hora acaba e vira uma saudade. O luto do suicídio não acaba nunca. Foi o que ouvi em depoimentos no grupo de enlutados por suicídio que frequento. É infinitamente pior saber que ela foi porque quis nos deixar. Por mais que queiramos racionalizar, fica a sensação de que não estávamos à altura para satisfazê-la.

Trecho da entrevista do Ivo Oliveira Farias retirado da Revista Galileu – A era da auto destruição
Ivo Oliveira Farias – Sobrevivente Enlutado

Link da matéria completa:  A era da auto destruição

A primeira reportagem sobre grupos de apoio para pessoas que perderam entes queridos por suicídio que li foi uma matéria da Folha de São Paulo, do blog Morte sem Tabu, onde conheci a história do Ivo, havia algumas semelhanças entre nossas histórias, perdemos nossa filha, adolescente, no mês de março, a dele em 2014 e a minha em 2017.

Nesta mesma reportagem, ele contava da experiência dos grupos de apoio  do CVV-GASS e também do Vita Alere,  dias depois passamos a frequentar e lá nos conhecemos pessoalmente, e foi a partir dessa amizade que resolvemos abrir o anonimato e falar abertamente sobre os assuntos: Suicídio, o luto das pessoas que perderam um ente querido para o suicídio,  o termo que usamos é Sobrevivente Enlutado.

 

 

 

4 Comments

  1. Giulieta Carani Bellini disse:

    Sempre me preocupei com as pessoas que sofrem e querem tirar a própria vida, mas minha grande preocupação e com a família que ficou, que faz milhares de perguntas e que jamais terão a resposta. Nunca passei por tal situação e sei que não vou passar, em nome de Jesus, essa é minha fé….como posso ajudar?….essa pergunta está latente no meu coração.

  2. Helia disse:

    Força para estes pais e família. Com serteza digo fizeram tudo por eles e a inda fazem não os esquecer nunca meus queridos. Vos digo vosos filhos foram trilhar outra estrada bj deus vos ajude a vocês e a cada um q partiu.

  3. Rosane de Freitas Oliveira disse:

    meu filho com 25 anos partiu em 21/01/2014 por enforcamento , minha vida transformou radicalmente …passo horas procurando entender e aceitar a triste dolorosa e inaceitável realidade…vivo em tratamentos psquiatrico e psicologico …faço terapias em grupo …mas nada ameniza tanto angustia …medicamentos estes sim são minhas amuletas de sobrevivencia …não sei dizer quem mata quem quando ocorre o suicidio …quem vai ou quem fica???? muito sofremento na alma…

  4. Edy disse:

    Eu perdi minha filha, minha razão de viver e dos esforços na no dia 21/05/2019, 20 dias antes do seu aniversário de 21 anos, e 10 dias antes do aniversário de seu pai. Vejo o que vem acontecendo com os jovens ultimamente, percebo que impotência é enorme. Me sinto muito culpada, sem noção, por não ter percebido ou acreditado que ela faria isso. Eu devo ter feito tudo errado ao educa-la, não achei a receita certa. O luto será eterno, o coração dói muito! Deus tem me confortado, me encaminhado a pessoas maravilhosas que me ajudam, mas sinto o olhar das muitas pessoas sobre mim. Olhar de culpa, como se eu fosse responsável por isso e então passo a acreditar nisso…

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