A presença da ausência
12/01/2018Suicídio segundo os pais
26/01/2018Um novo olhar, uma nova forma de ver e sentir, para aprender a me conhecer e a conhecer o outro, pois sempre pensei que me conhecesse e que conhecia minha filha.
Pensei que ela fosse incapaz de fazer algo contra ela mesma, ela tinha medo de tomar injeção e que não teria coragem de atentar contra a própria vida e que suicídio era algo infinitamente distante da nossa realidade.
Sabia que a depressão era algo muito forte, mas não tão devastador e por acreditar que como ela estava sendo tratada e medicada, que seria só uma questão de tempo para tudo entrar nos eixos novamente e ela voltar a ser a menina de sempre, estaria curada.
Mas infelizmente foi o pior engano que pude cometer, acreditar que estava tudo caminhando bem, pois de uma hora para outra ela começou a demonstrar que estava se recuperando, mas não, ela conseguiu com que eu acreditasse em suas palavras de que estava realmente se sentindo melhor para poder ficar sozinha por uns instantes e conseguir encontrar os medicamentos que estavam fora de seu alcance.
Fiquei dias, após sua morte, tentando entender e achar uma resposta. Ela era uma menina muito doce, meiga, carinhosa, sempre solicita, sorridente, inteligente e que aparentemente não teria motivos para tomar uma decisão tão drástica.
Não iria entender nunca, até que nos grupos de Posvenção, onde há também os sobreviventes de tentativas de suicídio, comecei a compreender um pouco o que podia ter passado na cabeça de minha filha, ouvindo os relatos que quem havia tentado.
É certo que a verdadeira razão está sepultada com ela, mas ao menos pude ter uma noção de que pode ter acontecido e entender que eu não a conhecia por inteiro, pois ela não se deixava conhecer, assim como eu que também não me conheço e estou nesta fase do luto em uma profunda busca interior, tendo um novo olhar para mim e para os outros.
E o que me resta é buscar um novo sentido para a vida, para continuar a viver, o que mais sinto é saudades e tristeza, não está sendo fácil, mas com o apoio de familiares, amigos e dos grupos de Posvenção, estou conseguindo me levantar todos os dias, respirar e pedir forças e sabedoria para continuar, mesmo despedaçada, juntando os cacos e tentando me reconstruir.