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O luto e os problemas cognitivos

No começo do meu luto, fiquei tão confusa com tantos sentimentos misturados, que pensei que não iria raciocinar como antes, era como se eu tivesse desaprendido algumas coisas. 

Por mais que soubesse que o luto é um processo que praticamente todos um dia passarão e que é natural, e faz parte da vida, nunca em nos meus piores pesadelos, achei que pudesse viver um luto pela morte de minha filha e ainda mais por suicídio. 

Meu cérebro parecia que havia perdido a função de pensar em algo novo, raciocinar e prestar atenção, os pensamentos eram apenas sobre o que havia acontecido, os momentos que não pensava no fato, era nas poucas horas que dormia. 

Havia ocasiões que não entendia coisas práticas do meu dia a dia, esquecia até as palavras, achei que não ia mais dar conta de tudo que antes eu conseguia, era uma sensação muito estranha. 

Fui atrás de informações, encontrei algumas matérias e estudos baseados na análise e relatos e que me mostraram muitas coisas semelhantes ao que sentia e me confortaram. 

Segundo o que eu lia e entendia, era natural esses problemas cognitivos, que logo passaria, e que  meu luto seria um luto considerado “saudável”, se eu passasse por todas as fases descritas como “normais” e que em um prazo determinado, considerado “adequado”, entraria em uma nova etapa, até me acostumar com a vida sem minha filha e eu acreditava que tudo era uma questão de tempo. 

Porém, muitas vezes as minhas emoções ficavam absolutamente instáveis e eu achava que ao invés de andar para frente, regredia e me apavorava. 

E as comparações com o luto alheio eram inevitáveis, cheguei a acreditar que definitivamente não daria conta, pois para mim, eu estava fazendo tudo certo, me esforçando para levar cada dia da melhor maneira possível, porém a confusão de pensamentos permanecia. 

Até começar a perceber que o que lia e ouvia era algo generalizado, valia para muitos casos e por mais que lesse e ouvisse, que luto é individual, me apegava às normas gerais.

E fui me vendo como uma personagem de um conto que Marina adorava que eu contasse para ela, a História do  “João Preguiça”, um rapaz que na tentativa de seguir as recomendações de sua mãe, não conseguia avaliar se as sugestões cabiam nas várias situações que iam surgindo em seu dia a dia. 

Para quem lê ou ouve o conto,  é fácil perceber que o João possuía algum problema cognitivo, a forma atrapalhada de lidar com as situações era engraçado, porém no meu caso, não tem nada de engraçado e sim desesperador.

No conto, João consegue se casar com uma moça rica por carregar um burro nas costas, tendo um final feliz como em praticamente todo conto de fadas, só que minha vida não é um conto de fadas e não há nenhuma possibilidade de um final feliz. Há uma busca por tentar sobreviver após a morte de um amor. 

Eu fiquei com os pensamentos lentos, tinha um cansaço mental e físico, era como carregar um burro nas costas, tentando seguir recomendações em situações que não as cabiam. 

Só com a minha vivência, com  a troca de experiências com outros enlutados e com a leitura de estudos atualizados sobre o luto me acalmei um pouco, foi assim que compreendi que mesmo sendo algo universal, há  peculiaridades no luto que devem ser levados em conta.

O vínculo com quem morreu, a forma da morte, a capacidade que cada pessoa tem no enfrentamento das perdas, a sua personalidade e a rede de apoio, são fatores que influenciam no processo

E que é natural e esperado que se tenha problemas cognitivos nesse processo e que no desespero de buscar respostas e de um remédio para parar de sentir tanta coisa misturada, fui percebendo que não há como seguir regras a não ser a de viver um dia de cada vez. 

4 Comments

  1. ligia mastrangelo disse:

    Eu amo vc!

  2. Elisabete disse:

    E como se vivêssemos em outro planeta, esse texto só confirma.
    Perdemos um filho, a identidade, o futuro não existe mais p nos, apenas o duro e triste presente…

  3. Joseane Leonel Souza Morais disse:

    Terezinha , que texto mais verdadeiro relacionado ao tsunami que vivemos !
    As vezes me sinto um João Preguiça , até me esquecendo da complexidade da nossa situação, me cobrando um “progresso”, como se a dor regredisse .
    E quando vc diz que não teremos um final feliz …aqui neste mundo não teremos mesmo !
    Na vida eterna não teremos mais fins, seguiremos juntas a nossas filhas !
    Você é muito especial !🌻

  4. Eliane Caetano Alves disse:

    Também estou passando por um luto perdim minha filha com 24 por suicídio estou sofrendo muito não estou conseguindo viver parece que estou vivendo um pesadelo

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