
O Tsuru laranja
01/10/2018
Finados
07/11/2018Amor além de nós
Um ano e sete meses se passaram depois da trágica notícia da morte e parece que foi ontem que tudo aconteceu. Busco forças para sobreviver, falo no assunto, escrevo, busco forças em minha fé e em minhas ações, sempre peço em minhas orações sabedoria para poder continuar com minha vida, mas confesso que não está sendo fácil.
Um ano e sete meses e eu ainda nem consegui me desfazer de seus pertences, o quarto que foi dela continua praticamente como ela deixou. A janela com o vidro fechado para a luz do sol e a luz da lua entrar, em noites de lua cheia ela dizia que a cor do quarto ficava diferente com o contraste da luz prateada, confesso que nunca havia reparado nessa sutileza.
O tinteiro na escrivaninha e a caneta bico de pena que ela havia comprado pouco tempo antes, estava aprendendo a desenhar. Os livros na prateleira, alguns deles ela nem chegou a tirar o plástico, também tinha comprado dias antes de tomar a decisão de partir e eu fico me perguntando:
“Para quê alguém que desejava morrer compraria livros se não tinha a intenção de ler ou ainda de continuar a viver?”
Eu nunca saberei a resposta para esta e para outras tantas perguntas, as vezes acho que nem ela sabia, mas mesmos assim é inevitável me questionar, mas eu acho que estou aprendendo as duras penas a viver com a dúvida, com a dor e com a saudade.
Marina adorava ler e o seu escritor favorito era José Saramago, o primeiro livro que ela leu do Saramago foi “As Intermitências da Morte” e me contou entusiasmada sobre a estória e que ela iria ler todos os livros do autor e que estes ela guardaria para sempre.
Ela chegou a ler alguns outros títulos e ao me contar sobre o quanto ela havia gostado de “Ensaio sobre a Cegueira”, mencionei à ela que havia recebido uma mensagem nos dias das mães que era um texto de Saramago falando sobre a definição de filhos. Ela me disse que duvidava que o texto fosse realmente dele, pois não era o seu padrão de escrita, resolvi pesquisar e realmente ela estava certa, o texto não é de José Saramago.
Mas independente da autoria do texto, eu o achei lindo e real, fala que filhos nos são emprestados e que aprendemos a amar além de nós mesmos e que ser pai e mãe é um ato de coragem, e hoje tenho a impressão de que realmente ela me foi emprestada e que uma das coisas que aprendi com a maternidade foi a ter coragem.
Coragem de enfrentar muitas coisas e hoje mais que nunca de ter coragem de inclusive me expor tanto para falar dessa dor que me rasga o peito, de falar de um tema tão espinhoso, falar sobre o suicídio de um filho, de me mostrar despida de vaidade de me expor como uma mãe que tentou mas não conseguiu cumprir o papel de proteger sua filha, de ter falhado e que para alguns pode ser uma vergonha, uma humilhação.
Eu nunca tive vergonha da minha filha, Marina foi um ser humano incrível e de um coração imenso, gostava de ajudar as pessoas e eu acredito que se a nossa história puder de alguma forma ajudar alguém que sofre, não terei vergonha e nem medo de me mostrar quantas vezes forem necessárias, mesmo não sendo fácil, buscando forças que nem eu sabia que tinha e eu acredito que só pode ser o amor por ela que prevalece mesmo depois da morte, um amor que vai além da vida, um Amor além de nós.
17 Comments
Muito lindo seu texto! Maravilhoso! Parabéns pela coragem!
Terezinha tenha paz.💕 e muita fé melhoras a vcs
Lindo. Deus te abençoe. Segue um abraço bem apertado.
Tô aqui numa tristeza danada aí eu li o seu depoimento não sei o que e pior acontece de repente ou devagarinho e não puder fazer nada
Postagens como essa nos fazem pensar em quem fica. Talvez o inferno que deixamos aos outros seja muito pior que o que carregamos…
Disse TD, pode ter certeza que é pior. Não tem o que possa descrever.
Sabe Terezinha está sua pergunta?
“Para quê alguém que desejava morrer compraria livros se não tinha a intenção de ler ou ainda de continuar a viver?” eu sinto no meu coração com muita genuidade. ….que neste momento da compra foi aqueles momentos de sentir a luz no final do túnel. …uma luz de esperança e momento de calmaria no coração da Marina. …. eu acredito muito nisso. …. como eu acredito dos planos de comprar coisas que meu irmão gostava um dia antes de partir. ……. não tenho a resposta certa mas eu acredito muito e sinto que foi isso. ….beijos no seu coração. …
Terezinha, parabéns a você e ao Joseval pelo trabalho lindo que estão fazendo, sem dúvida através da sua coragem muita gente vai sentir apoio pra suportar a dor. Não tem como passar por essa vida sem danos, mas os danos podem produzir em nós e nos outros capacidades que ficariam adormecidas. Um beijo grande
Que lindo . Fez um mês que meu sobrinho se suicidou. Precisamos de ajuda. Está difícil demais. 😥
Terezinha…que dor horrível, tantos porquês…quanta tristeza sinto no meu peito, sei bem o quê você está passando,pois meu amado filho à três meses suicidou-se….
Você descreveu exatamente o que eu sinto em relação minha filha Larissa q tb partiu por suícidio, é isso aí foram anjos q Deus nos emprestou e q Deus nos escolheu para um gde propósito, o nosso amor ultrapassa dimensões e será para eterno sempre , cada dia mais, e demostramos esse amor através de outras vidas as ajudando com a nossa experiência!!! Parabéns pelo relato Terezinha!
A dois dias nao consigo para de ler seus textos, pois cada palavra escrita por você parece sair do fundo do meu peito…
Faz 4 anos que perdi meu pai para o suicídio, nos também fomos incapazes de perceber que ele precisava de ajuda, e nao teve tentativa nao teve um adeus, somente restou um buraco negro que nunca se fecha e os tantos porquês?
Ele era uma pessoa maravilhosa de corpo e alma e hoje so tenho saudades.
Raniele, sinto muito por sua perda.
Uma das primeiras coisas que os recém enlutados nos perguntam é quando que essa dor vai passar. Também já fiz essa pergunta e hoje entendo que ela não passa, nós é que precisamos a aprender a viver com ela de uma forma que ela não nos destrua.
Um grande abraço.
Parabéns pelas palavras Terezinha! Conheci o site hoje e imediatamente me cadastrei. Perdi meu filho de 15 anos, cerca de 9 meses atrás pelo suicídio. Ele se jogou do sexto andar. Meu filho era lindo, do bem. Carinhoso com todos. Nunca deixei faltar nada e era muito amado. O motivo pelo qual ele fez isso, nunca saberei. Ele levou consigo. Sempre pro por ele. Já sonhei com ele por duas vezes, mas queria sonhar todas as noites. Sempre peço isso nas orações. Deus me deixou uma filha para cuidar, e é isso que me mantém de pé! Obrigado por compartilhar seus sentimentos conosco. Deus no controle!!!!
Muita saudades do meu filho Murilo.
Saudades que corroi meu peito
O beijo que nao dei
O abraço que nao dei
O carinho no pé que ele tanto amava que.nao dei
Amor que será eterno
Agora penso sempre que será menos 1 dia.
Tenho meu caçula de 19 anos com uma vontade incrível de viver . Com sonhos e planos . Idolatrava o irmão
Sim um dia todos nós vamos nos reencontrar
Dia após dia
Dona Marize, me desculpe por entrar em contato com a senhora. O Mu era muito especial pra mim, tivemos um namoro antes dele ir embora. Nunca entendi o motivo de ele ter sumido, de parar de falar comigo do nada e de não atender telefone. Sonhei com ele hoje e foi tão real que levantei e joguei o nome dele no Google. Eu não sabia. Que dor!
Quero que a senhora saiba que criou o homem com a alma mais pura que eu já vi. O Murilo era um ser iluminado, o menino com o maior coração do mundo! Muita saudade do “meu gigante”! Que Deus possa te confortar sempre! Ficam meus sentimentos e a esperança de um dia reencontra-lo e receber aquele abraço de urso de novo! Ele te amava muito! Fique com Deus!
Marize fiquei sem seu contato e de repente vejo esta notícia, estou perplexa , abalada, meu Deus! O Murilo um garoto tão incrível tão bom. Deus esteja contigo amiga para te fortalecer. Com certeza não acabou, tem que haver um outro plano outra dimensão e só assim podemos prosseguir e acreditar que tudo vai passar.