Como sobrevivo depois da morte da minha filha por suicídio
11/06/2018Sobre os barulhos e os silêncios
20/07/2018Um dia de cada vez
Ouvi uma pessoa dizer que há beleza no luto, confesso que fiquei bem confusa, não vejo beleza em se perder alguém que se ama, a morte faz parte da vida mas ainda não consigo ver beleza na tristeza e sofrimento, mesmo convicta que isso também é inevitável.
Junto com a Marina, enterrei alguns sonhos, muitos medos e algumas crenças. Eu deixei de ver a coisas de uma forma romântica, hoje vejo as pessoas que me rodeavam de uma forma bem diferente de antes, assim como tenho a certeza que a morte dela me fez ser uma pessoa bem diferente também.
Nunca imaginei expor minha dor, da forma como faço hoje, pois expondo consigo ter uma certa paz. Não tenho orgulho disso, pois para escrever o que escrevo, precisei perder uma das pessoas mais importantes de minha vida, mas foi uma das formas que encontrei para continuar a viver.
Inclusive fiz o teste e fiquei dias sem escrever, sem colocar para fora os meus sentimentos através da escrita. E concluí que necessito fazer isso, pois a angústia e a dor vão me corroendo de uma forma que mina a vontade de viver.
Na última sexta fiquei mal, não tive vontade de levantar da cama, não tive vontade de trabalhar e nem de falar, meu humor estava péssimo, toda hora me dava vontade de chorar e eu chorava e mesmo assim a tristeza persistia.
A saudade bateu muito forte, tudo a lembrava de uma maneira bem dolorosa e coincidentemente o Joseval também ficou mal, nossas crises de tristezas eram revezadas, não que combinávamos, pois isso é impossível, mas havia dias que estava mal e ele segurava a barra, em outros era ele, sempre um dando força para o outro, mas desta vez, foi simultâneo e acabamos percebendo que o motivo foi algo que ouvimos e que mexeu demais com ambos.
Muitas vezes ouço algumas coisas que não me agradam e aprender a filtrar essas falas é um pouco demorado, leva tempo para entender que não dá para guardar tudo que se ouve, o que fez bem, guardo e que não fez, jogo fora. Mas essa fala persistiu. E ela foi justamento sobre o direito de se cometer suicídio.
Há vários fatores para o suicídio, isso já compreendo e há sempre algumas pessoas que defendem o direito a tirar a sua vida. Pois afinal a vida pertence a quem? Pertence a Deus, ao Estado, aos pais, ao companheiro ou a vida é minha e eu faço dela o que eu quiser, inclusive tirá-la?
Está aí uma questão dificílima de ser respondida. Filósofos, religiosos, pais, cientistas, pessoas que pensam em suicídio, cada um terá uma resposta dentro de seu entendimento. Mas para quem se tornou um sobrevivente enlutado por suicídio, não há resposta que o faça compreender e aceitar.
Pois a dor de se perder uma pessoa dessa forma, modifica tudo, modifica a forma de pensar e de viver e ter que conviver diariamente com um apanhado de sentimentos confusos é muito difícil também e só quem passa sabe o que quero dizer.
Por isso continuo a pensar como alguém vê beleza no luto? Talvez pela certeza de um reencontro, talvez pelo aprendizado, não sei, só sei que isso eu ainda não consigo ver e nem sentir, mas eu acho que um dia poderei me recuperar da morte da Marina, superar não, não há superação para uma situação como essa.
Não está sendo fácil, as vezes tropeço e caio, me levanto a cada queda, vivo um dia de cada vez, afinal o amor por ela é grande demais e naturalmente que me sentirei triste e arrasada, as vezes ou sempre, pois isso eu ainda não consigo dizer com certeza.
8 Comments
Oi! Faz 4 meses que perdi meu namorado é sempre me encontro nas suas palavras. Obrigada por isso.
Bia, sinto muito por sua perda. Estamos juntas nesta triste sintonia, obrigada pela mensagem, um grande abraço.
Olá,
Confesso que a ideia de suicídio vem na minha cabeça algumas vezes, mas sempre quando leio algo desse blog ou relacionado a dor de quem fica, isso é a única coisa que me faz desistir e hesitar. Penso muito nos meus pais que são maravilhosos assim como o restante da minha família e nao merecem jamais passar por essa dor. Não penso em mim, por mim eu o faria. Mas jamais desejaria que eles passassem isso que voces passam, pois eles não merecem assim como voces também não.
Obrigada pela mensagem, ela só me faz ver e sentir que não estou errando ao expor a minha história, o que sinto tem ajudado outras pessoas a falarem também de suas dores, medos e angústias. De coração não desista de você. Um grande abraço.
Não pare de escrever… conforta muito.
Bom dia Terezinha Como vai? Em primeiro lugar gostaria de te parabenizar pelo seu lindo trabalho do Grupo de Apoio aos Sobreviventes no qual eu e minha família participamos este mês e tbm gostaria de fazer um comentário referente este assunto referente “a beleza no luto” .
Antes deu perder meu irmão pelo suicídio eu sempre gostei de ver videos no youtube sobre Motivação etc… E sempre ouvir falar sobre ” .. A vida não é o que nos acontece mas sim o que a gente faz com o que nos acontece…”, ” …faça de um limão uma limonada …” , ” … faça uma Desgraça virar uma Graça… ” e depois que aconteceu esta tragédia em minha vida ví que a teoria é muito fácil mas por em prática estas frases realmente é muito difícil ainda mais se este luto é por suicídio que se torna muito mais difícil seguir a vida .. ” A beleza no luto ” pra mim é uma teoria apenas …
Ainda estou neste luto após 7 meses da perda do meu querido irmão e não sei se sairei tão cedo , ainda estou tentando me reerguer mas espero que um dia eu… minha família … vcs… e todos que estão neste caminho… poderemos seguir a vida um pouco mais suave !!!
Renata, não é fácil e nem existe fórmula mágica, quanto maior o amor, maior é a falta que ele faz em nossas vidas e maior é a nossa inquietude em não ter tido o poder de ajudá-los mais.
O luto, assim como outras fases difíceis da vida, na teoria parece fácil, mas só quem passa sabe da dificuldade que temos em prosseguir depois de uma tragédia como essa.
Eu acredito que o importante é aceitar que precisamos de ajuda para seguir em frente.Essa ajuda pode vir em forma de um abraço, uma palavra, um testemunho, ou uma escuta. Enfim, saber que não estamos sós e que a caminhada pode estar sendo dura, mas precisamos ter a fé de que um dia ela ficará mais suave. Beijos e obrigada por sua mensagem.
Encontro em suas palavras forças para conseguir ajudar minha cunhada faz 3 meses da morte de minha sobrinha de 16 anos.