Uma dor que não tem nome
04/04/2018Informar para prevenir
26/04/2018Ajuda para seguir em frente
“Se a nossa compaixão não vira gesto, ela não vale nada” Ricardo Sá.
Fez um ano que fui a primeira vez ao Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio do Instituto Vita Alere e dias depois ao Gass do CVV.
Fui em busca de respostas, buscar ajuda para um luto de tão difícil elaboração, precisava entender o que leva alguém a cometer suicídio e como é que as pessoas que ficaram conseguiram seguir em frente com suas vidas. Confesso que não fazia ideia do que iria encontrar, mas tinha uma certeza, que não existia fórmula mágica.
Cheguei e entrei quebrada de corpo e de alma, fazia dias que não me alimentava direito, não dormia bem, o choro era desesperador e a dor era imensa. Estava cheia de dúvidas, de medos e desesperança.
Nas apresentações já senti que estava no lugar certo, eram mães como eu, pais como o Joseval, irmãs, esposas, amigos, filhos e filhas, com a mesma sensação de apatia, de que a vida havia parado naquele dia fatídico e que as coisas continuaram a seguir mas que nada mais tinha sentido. Alguns casos mais antigos outros recentes.
Ouvi histórias que pareciam ser a da Marina, de jovens e também de pessoas com mais idade, que tiveram ajuda médica e psicológica, histórias de pessoas que nunca deram sinais de poderiam tomar esse rumo, que tinham tudo pela frente mas não conseguiram prosseguir. Ouvi histórias de famílias que ficaram devastadas, assim como a minha.
Histórias de quem ficou e que além da dor da perda, tem que lidar com a dor do abandono, da solidão e da culpa, culpa que nem existe, mas que por vezes insistimos ou somos levados a acreditar que temos.
Entendi que “os ses e por quês” sempre irão existir, que talvez não poderia ter impedido minha filha de cometer o ato e que por ser tabu, não se fala em suicídio e que sem falar fica difícil ajudar.
Saí com uma sensação de ter sido compreendida e de não ter aquele olhar de julgamento, afinal a maioria dos ali presentes haviam passado pelo mesmo que passei.
Foi a partir deste encontro e depois dos outros que se seguiram que entendi a importância de dar um passo de cada vez com relação as atitudes que deveria tomar, ter calma, o tempo parece que corre diferente para quem está de luto, a importância de descobrir o que faz bem e o que faz mal, de deixar para trás coisas que não cabem mais nesta jornada que fui obrigada a seguir.
A ajuda dos Grupos, das psicólogas do Vita Alere e dos voluntários do GASS CVV, que de uma forma extraordinária amparam quem ficou e também a quem conseguiu não desistir da vida é descomunal.
A ajuda dos outros enlutados e dos sobreviventes, ao longo deste ano foi de suma importância e eu digo com toda a certeza que eu não conseguiria estar aqui hoje da forma como estou se não tivesse essa ajuda.
Foi nestes encontros que descobri também que preciso dar a mão para aqueles que eu encontrei no caminho, as vezes sem forças para continuar assim como eu e que ao caminhar juntos podemos fazer essa jornada mais amena, pois ela sempre será difícil, aceitar e entender que nada será como antes é essencial.
Essa ajuda me fez entender a frase que inicia este texto: “Se a nossa compaixão não vira gesto, ela não vale nada”. Gesto de pessoas que doam seu tempo para simplesmente mostrar que estão ali, dispostos a te abraçar e a te ouvir.
Fico pensando na quantidade de pessoas que infelizmente não conseguem ser ajudadas, por desconhecimento, por vergonha, ou mesmo por não ter acesso e que não estão conseguindo seguir adiante.
Hoje um ano depois, fazendo uma retrospectiva, naquele primeiro encontro reconheci que precisava de ajuda para seguir em frente, reconheci que sozinha não iria longe e a palavra e o sentimento que ficam disto tudo que carrego comigo é gratidão pela ajuda recebida por pessoas que nunca imaginei conhecer no momento mais difícil da minha vida.
Eu estou conseguindo seguir adiante, entendendo que a dor, a tristeza, as dúvidas, os medo, fazem parte do processo, mas acredito que estou saindo do lugar. Pois um dia tudo isso poderá dar lugar somente a saudade pois a Marina sempre viverá enquanto eu viver.
Grupos de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio
clique nos links para ter acesso:
3 Comments
Ah Terezinha! Quantas mãos vc já estendeu… Quantos abraços vc já deu….
Que vc é o Joseval possam continuar com essa empatia sempre…
Estou e continuarei aqui para o que precisar!
Um dia de cada vez!
Devolvi a minha filha por suicídio. Vivo entre altos e baixos. Desejaria muito trocar idéias com mães que estão vivendo o mesmo problema que eu. Precisamos nos ajudar mutuamente. Vivo depressiva, sem ânimo para viver. Por favor entrem em contato comigo para falarmos um pouco da nossa dor e trocar experiências como nos ajudar.
Frequentei várias vezes o Vita Alegre. Sou uma sobrevivente do suicídio.
O grupo me ajudou muito, até mais do que a terapia que faço