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Positividade tóxica no luto.

Não sou contra ser positivo, mas em exagero , se torna positividade tóxica no luto, acho muito bom quem tem uma alegria contagiante, aquela pessoa de bem com a vida, inabalável.

Pessoas que além de esbanjarem positividade tentam colocar pessoas a sua volta para cima, não nego que elas tem a boa intenção de encorajar as pessoas a passarem pelas dificuldades da vida de forma leve, com palavras de motivação, porém, as vezes elas se esquecem que tristeza e dor são inerentes ao ser humano, passar por momentos difíceis faz parte da vida de qualquer pessoa.

No meu processo de luto me deparei com várias pessoas que queriam a todo custo me animar, mas eu me sentia desconfortável, pois invalidavam o que eu sentia, não deixando tocar no assunto tentando me blindar da dor ou quando era inevitável, vinham com aquelas frases prontas, “Deus sabe o que faz”, “ela não sofre mais” , “seja forte, você tem outro filho”, e outras tantas frases clichês que acabavam me machucando mais.

Pois não era possível para mim ficar bem, estando despedaçada e ao mesmo tempo parecia que eu não tinha o direito de me sentir mal nem em um dos momentos mais difíceis da minha vida.

E fui percebendo a cada dia que passava que raramente alguém queria saber realmente como eu me sentia, pois quando a pergunta era “está tudo bem?”  a resposta que queriam ouvir era ”Tudo!”,  para a conversa mudar de rumo, pois são poucos os que aceitam ouvir lamentos.

Mas me negava a falar que estava tudo bem, porque eu não estava e quem perguntava sabia que não, só perguntavam por educação, por força do hábito, então passei a responder: “estou indo!”, depois passei a responder: “bem na medida do possível!” e mudei também a forma que eu começo uma conversa, não pergunto se “está tudo bem?”, pergunto “Como você está?” assim dou brecha para que a pessoa se sinta à vontade para falar realmente o que sente ou encerrar a conversa. 

E havia aquelas com o discurso que eu deveria ser grata por tudo, que eu deveria ver o lado bom das coisas, como se desse para ver o lado bom de uma morte prematura e não ter nem o direito de ficar triste, chateada, frustrada, questionar o universo e ficar revoltada. 

E pior eram aquelas religiosas que tentaram normalizar o meu luto, como eu deveria sentir e falar, com a regras de suas crenças que não se aplicavam a mim por eu não comungar das mesmas que elas, mas que mesmos assim, insistiam em me falar, e que eu deveria aceitar os desígnios de Deus, que Deus tinha um propósito na minha vida e que a morte da minha filha veio me mostrar isso.

Ou aquelas com as frases: “a vida que segue”, “tente focar em outras coisas”, “não fique falando dela pois assim você nunca vai esquecer”, “se você ficar tocando na ferida, nunca irá cicatrizar”.

Eu me sentia incomodada com essas frases e quando falam que o enlutado se isola, muitas vezes é por esses motivos, por não conseguir demonstrar o que ele realmente sente, pois sempre vai ter alguém com um discurso pronto ou com uma positividade tão grande que acaba sendo tóxica. 

Nos grupos de apoio, escuto outros enlutados falarem o mesmo, da censura ao falar do acontecido, de não poder chorar, das cobranças para ficarem bem e que com o passar do tempo elas vão se intensificando e o quanto esse tipo de atitude mais prejudica do que ajuda. 

Falar para uma mãe não chorar pela morte de um filho para mim é uma violência, e sempre que escuto este discurso, retruco dizendo que se a pessoa não pode chorar pela morte de alguém amado, vai chorar por quem?

Vivemos em uma sociedade que quer anestesiar a dor a qualquer custo, quer que as pessoas não se queixem de absolutamente nada, tudo é propósito, é edificação, tem que aparentar estar bem de qualquer jeito, a tristeza virou doença e deve ser medicalizada.

Para muitos o luto tem prazo para terminar e tenho a impressão que não temos o direito de demonstrar tristeza mesmo nos piores momentos de nossas vidas, para ser exemplo de força e fé.

Nada contra quem consegue e eu não estou fazendo apologia a abraçar o sofrimento e ficar com ele e nem a vitimização, pelo contrário, viver o luto com tudo que ele me trouxe foi primordial para que entendesse uma porção de coisas e precisei aceitar minha fragilidade.

Quem consegue engolir o choro e não ficar engasgado com ele, não ter reações físicas, ótimo, mas eu não sou assim e lamento pela vezes que tentei calar a dor do outro, pois fazendo um retrospecto, eu fui esse tipo de pessoa em alguns lutos alheios, hoje sei que só quem sente a dor, sabe o tamanho dela e não dá para medir e nem tirar a dor com pensamentos e frases de impacto.

Positividade é bom, mas ao extremo faz um trabalho contrário, não é um bom sinal passar por um momento difícil e esbanjar animação, pode ser que em algum momento da vida a conta dessa alegria disfarçada chegue e aí pode ser mais complicado de lidar.

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