Todos meses amarelos
11/10/2019Falar de luto é falar de vida.
21/11/2019Ninguém nasce pronto
Fiquei um tempo sem escrever, não por não ter nada, pelo contrário, por estar com a cabeça cheia, tantos assuntos, tantas percepções que decidi dar um tempo e organizar tudo.
Apenas escrevi algumas reflexões sobre processos, que é o conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo.
Escrevi sobre as fases, aprendizados, erros e acertos que formam as pessoas durante o curso da vida.
Aliás a vida nada mais é do que um longo processo, começando pelo processo da gestação, leva-se 9 meses para o bebê se formar e estar apto para sair do útero, depois do nascimento o processo é contínuo, a aprendizagem é constante, nunca pára-se de aprender, e viver é isso, um aprender sem fim, culminando na morte.
E para aprender leva-se tempo e como diz o Professor Mário Sérgio Cortella apesar de ser óbvio, não nascemos prontos e a maioria das pessoas se esquece disso, inclusive eu, que achava que estava pronta.
E ouço e leio direto que os jovens de hoje não querem mais seguir processos, estão pulando fases, vivendo um imediatismo e temendo ferozmente o fracasso, querendo mostrar fortaleza o tempo todo, não tolerando frustrações e que talvez isso para alguns, responda a pergunta dos motivos pelos quais os índices de suicídio vêm aumentando assustadoramente entre os jovens.
Não há nada que confirme que o aumento dos suicídios entre os jovens se deva ao fato desta juventude não aceitar os processos, pode colaborar, aliás, jovens não possuem ainda certas funções formadas totalmente, o jovem que se matou, não teve tempo para ficar pronto.
E que não dá para falar de suicídio de uma forma tão simplista, pois suicídio é multifatorial e também é um processo.
E na busca incessante de processos que levem menos tempo para tudo, vivemos em uma sociedade onde não aceita mais imprevistos, não deve perder tempo e os jovens são frutos desta sociedade que cobra uma formação cada vez mais rápida, Bauman diz que vivemos em tempos líquidos, já Mário Sérgio Cortella, na era da miojização da vida. Tudo muito volúvel e fugaz.
Muitos culpam a tecnologia, tudo é muito rápido, os valores são outros, a vida não é mais como antes é fato, pois o mundo é outro. O tempo sempre teve um grande valor, mas nos dias de hoje é uma mercadoria valiosíssima. E isso interfere na forma como estamos agindo socialmente.
Quando eu ouço e leio que os JOVENS de hoje são impacientes e ansiosos, fico pensando que não fazemos uma auto análise.
Vejo isso diariamente, a ansiedade para se tornar alguém, ter sucesso, ser reconhecido, fazem que não só os jovens, mas os adultos também, pulem processos.
Não querem mais ler livros, querem os resumos, não querem mais levar anos estudando sobre algo, pagam caro por cursinhos sobre como ganhar tempo.
Usam remédios milagrosos que prometem emagrecimento rápido, sendo que se mudar a alimentação e praticar atividade física, ajuda. Mas leva-se tempo.
Aplicativos informando o tempo que você deverá percorrer de um lugar ao outro e se acontecer algum imprevisto, ele te direciona para outro caminho, apps que informam o tempo que o transporte irá chegar, etc, são apenas exemplos de como estamos ficando acostumados a não querer perder tempo com absolutamente nada.
Estamos ficando acostumados fazer tudo ao mesmo tempo agora, a estar fisicamente em um lugar e virtualmente em outro, estamos sentados com uns e falando com outro do outro lado do mundo.
Isso tudo não é saudável, assim como trocar refeições por fast food ou macarrão instantâneo, que podem até cumprir o papel de saciar a fome, mas a falta de nutrientes, não alimenta corretamente e pode causar doenças sérias a longo prazo.
Nunca se tem tempo, apesar do dia ter 24 horas para todos os seres viventes. Todas as vezes que pergunto para alguém como está a vida ela responde que está corrida.
Eu que me julgava pronta, fui desconstruída e agora estou passando pelo processo de colar os cacos, e às vezes a cola que uso tem dias que falta, peço a quem tem e não sei se é bom ou ruim, mas a quantidade de pessoas que tem a cola está aumentando e mesmo com todas as campanhas de prevenção.
Portanto, falar é necessário, para que a sociedade tenha ciência do tamanho do problema e que também participe de ações e é claro os profissionais precisam ser mais capacitados, pois se o suicídio é prevenível e eles batem tanto na afirmação que poderiam ser evitado 90% dos casos, tem algo muito errado aí.
Mas isso é assunto para outro post…
Referências:
BAUMAN, ZYGMUNT Tempo Líquido: Rio de Janeiro: Zahar, 2007
CORTELLA, MÁRIO SÉRGIO – Não nascemos prontos -Provocações filosóficas: São Paulo: Vozes, 2006
5 Comments
Parabéns ,é sempre muito rico os seus textos,também busco essa cola no meu dia a dia,momentos difíceis,as vezes leves outros tempestuosos
Amo ler seu textos,um grande a braço
Vanuce, digo que a cola é uma mistura de compaixão, empatia, solidariedade, compreensão, muitas lágrimas e abraços que nós enlutados temos uns pelos outros. E foi com essa cola que eu consegui colar os primeiros cacos e ir juntando. Se não fosse a ajuda dos grupos, eu ainda estaria estilhaçada no chão. Nunca mais serei a mesma, mas alguns cacos eu consegui colar e espero que eles não desgrudem. Saudades de você. Bjs
Vc se supera a cada texto, muito bom mesmo. Sou sua admiradora! 💋❤️
Obrigada.
Saudades de você Maria Inês.
Beijos.
Preciso de ajuda e pra passar minha visão do mundo e da vida… ja tenho data, local e como vou fazer… preciso q entre em contato comigo o qt antes