Kit Esperança
13/12/2018A vida, o suicídio e as interpretações
31/12/2018Eu e o Joseval resolvemos fazer um balanço deste ano de 2018, ano onde tudo foi novo, um ano de recomeço com um misto de tristeza, de coragem, de saudades sem fim e de compaixão, em tudo que realizamos.
Depois que resolvemos colocar o blog no ar em novembro de 2017 descobrimos o imenso mundo dos enlutados do qual fazemos parte, mas não imaginávamos que tantos enlutados se manifestariam, pois por tratar-se de um assunto tabu e tão triste e por vivermos em uma sociedade onde a felicidade deve ser sempre mostrada e a tristeza escondida, nos surpreendemos.
E já no começo do ano de 2018 a nossa jornada de falar abertamente sobre suicídio começou a partir de um convite do Anderson Mendes para participar do Programa Humanos da Rádio Boa Nova, em janeiro. Contamos a nossa história e com isso demos um passo para percorrer outros caminhos.
O Grupo de Apoio Nomoblidis foi um desses caminhos, foi justamente no dia que completou um ano da morte da Marina que iniciamos um desafio de coordenar algo que para nós era novo e contar com a ajuda do Instituto Vita Alere e da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, foi primordial e para nós só veio complementar a caminhada no processo do luto, ajudando a levar o entendimento e o acolhimento aos enlutados, que como nós que buscavam espaço para expressar suas angústias, não sabiam com quem dividir suas dores sem julgamentos e cobranças. Um espaço seguro e com pessoas que passaram pelo mesmo.
Em abril após a publicação da matéria jornalística na revista Época, matéria muito bem escrita pela jornalista Flávia Tavares, recebemos tantas manifestações de outros enlutados que passaram pelo mesmo e de pessoas com ideação suicida que se compadeceram com a história que mais uma vez percebemos o quão urgente e necessário falar sobre Suicídio e principalmente mostrar o lado de quem fica.
E depois de alguns acontecimentos que foram notícia e deixaram o assunto em evidência em todos os meios de comunicação, colaboramos com algumas outras entrevistas inclusive para a televisão.
Mas não é fácil colocar o rosto, com nome, sobrenome e profissão aos sete ventos, estampar com imagens um sofrimento que só quem passa sabe do que estamos falando e quando falamos do misto de sentimentos, queremos dizer que não ficamos orgulhosos de nos expor, pois nos expomos devido a perda de um filho e isso não é glória nenhuma, não sofremos com a exposição, mas nos constrangia receber os parabéns das pessoas quando nos reconheciam nas matérias, entendemos que os parabéns são pela coragem de contar a nossa história, mas mesmo assim não é algo fácil de assimilar.
Recebemos vários pedidos de entrevistas e começamos a selecionar certos pedidos pois passamos a sentir se havia empatia em quem queria nos entrevistar, o meio o qual seria publicado e mesmo ao telefone quem nos deixava a vontade ou não.
Compartilhar nossa história não é fácil e se o entrevistador não tiver um pouco que seja de empatia, as matérias são escritas ou editadas deixando o tema meio que jogado no ar, não como uma forma de informação, assim foi com algumas entrevistas que foram para cumprir pauta sobre o Setembro Amarelo e por mais que deixássemos claros que há um erro na afirmação dos 90% dos casos de suicídio que poderiam ser evitados, alguns meios de comunicação continuaram não dizendo o por quê e de com se chegou a essa taxa deixando assim que sensacionalismo fizesse parte.
E o que mais nos surpreendeu foi a repercussão do programa Encontro com Fátima Bernardes, nosso site teve tantos acessos que saiu do ar, pois não suportou a quantidade de visitas e isso sem o blog ser mencionado no programa, apenas do grupo de apoio. No programa fomos apresentados apenas como Joseval e Terezinha, sem sobrenome e nem de onde viemos e mesmo assim as pessoas nos encontraram e recebemos inúmeras mensagens, e-mails do Brasil e do exterior.
Outra coisa que ocorreu devido as entrevistas foi sermos convidados para conhecer e depois colaborar com um projeto magnífico que é SOS VIDAS, um projeto que leva informação, acolhimento e mudanças na vida dos adolescentes assistidos por ele, e ter participado do projeto só com a nossa história foi uma das melhores coisas que nos aconteceu este ano.
Os encontros com nos grupos de Apoio do Gass CVV, os do Vita Alere, conhecer pessoas novas que sofrem mas que buscam uma nova forma de viver a vida a partir do que aconteceu e buscar entendimento de que podemos sim viver sem culpa, um dia de cada vez, também foi muito gratificante.
Encerramos o ano com uma matéria publicada no Washington Post sobre a forma que nós sobreviventes enlutados pelo suicídio aqui no Brasil estamos conseguindo seguir em frente.
Enfim, foi um ano repletos de emoções, muitas decisões importantes em nossas vidas, muito apoio de quem nos quer bem e algumas decepções também com algumas pessoas que faziam parte de nosso círculo de amizades.
Um ano que encerramos bem na medida do possível, colocando na balança que a melhor escolha que fizemos foi falar sobre o suicídio, mas não em qualquer lugar, não com qualquer pessoa, falar de forma certa para que a ajuda chegue para quem precisa de forma certa e na hora certa.
1 Comment
Tbm Agradeço este ano de muita tristeza ter feito parte desde junho do grupo de São Bernardo a vcs nos dando todo apoio!
Não foi fácil mas juntos se tornou um pouco mais suave!