Empatia
15/02/2019A dor
09/03/2019Água Turva
Está se aproximando mais um ano sem a Marina e é impossível não sentir a ebulição de sentimentos, aconteceram tantas coisas nestes 2 anos, o quebra cabeças ainda faltam peças mas sei que essas peças jamais irão se encaixar. Dois anos que fiz uma imersão dentro de mim e descobri coisas que eu não sabia que estavam lá e outras que estavam adormecidas e que foram despertadas com a morte da minha filha.
Fui obrigada a aprender coisas que não teria vontade se não fosse a necessidade de ter que entender um pouco deste mundo, mesmo já tendo visto em matérias da graduação o tema como objeto de estudo, nunca quis me aprofundar, nunca me senti tocada pelo assunto e via como algo absolutamente distante de minha realidade. Nunca achei que me aprofundaria em um tema tão mal visto, inclusive por mim.
Precisei e preciso de uma busca de entendimento sobre o luto por suicídio e uma boa dose de reflexões diárias, já usei vários comparativos para descrever como está sendo esse processo e estes dias me veio a impressão de que a dor do luto é como uma água turva cheia de fragmentos e com o tempo esses fragmentos vão assentando no fundo, mas que a qualquer mexidinha, ela volta a ficar turva e não se enxerga muita coisa através dela, e esses fragmentos para mim são os sentimentos que compõem o processo do luto e as vezes quando acho que eles estão assentados dentro de mim, vem um sacolejo e mistura tudo novamente.
Esses sacolejos podem ser algo inesperado, simples, em outras situações seriam coisa bobas do dia a dia mas que para um enlutado bagunça tudo. Uma música, um cheiro, um objeto, um lugar.
Quando a Marina era criança, ela tinha como referência uma prima que estava na adolescência e que era nossa vizinha e o gosto musical da prima fez a cabeça da Marina, no final dos anos 90 começo de 2000 as boybands americanas estavam no auge e as músicas eram repetidas inúmeras vezes ao dia.
Tento evitar certas coisas que sei que me fazem mal, ouvir certas músicas é uma delas, ir a lugares que me fazem lembrá-la ainda de uma forma muito dolorida, mas não tenho controle de tudo e esses dias ouvindo pela internet uma lista de músicas aleatórias, ouvi uma música da banda que ela fazia repetir e que fica impossível não ter automaticamente as lembranças, mas essas são lembranças gostosas do tempo que ela era uma criança, e nesta mesma playlist apareceu uma música que eu nunca havia escutado e fui saber mais sobre ela, e esse foi o grande sacolejo, tratava-se de uma música nova do grupo e a música romântica fala de não haver lugar no mundo sem quem amamos.
Vi o vídeo e me veio a tristeza de constatar mais uma vez que o tempo passa para quem ficou, os rapazes da banda hoje maduros com suas famílias, me fez cair na real de que tudo que ela sempre almejou acabaram junto com ela, que eu nunca verei a parede cheia de certificados que ela tanto queria ter, não irei a sua casa cheia de gatos e nem terei o prazer de ver os souvenirs das suas viagens que ela dizia que iria fazer um dia e no final do vídeo uma bebê pede ao pai, membro da banda, repetir a música exatamente como ela fazia, mexeu comigo, fez com que os fragmentos se misturassem todos.
Enfim, a montanha russa, o buraco negro e agora a Água Turva, o luto e as comparações que eu vou descobrindo a cada dia que passa e me faz realmente ter certeza que a minha vida precisa ser ressignificada.
2 Comments
Comparo (dentro da minha cabeça hoje totalmente confusa e perdida)Que essa dor e angústia sera muito difícil de ser superada. Penso que meu filho era minha vida e me pergunto porque ele tirou a sua o que dilacerou uma cicatriz que estava guardada desde 1991 quando meu primeiro filho de quase dois aninhos faleceu de meningite . Penso e tento aceitar perder um filho por uma doença física e um por doença da mente.
Estas lembranças tem dias que agimos tão naturalmente como as músicas mas outros dias faz doer nosso coração de saudades …. e vamos seguindo o barco. ….