Nada será como antes
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21/05/2019A razão e a emoção
Sonhar com pessoas que já se foram faz parte do processo do luto, entra no campo espiritual e eu demorei uns 3 meses para sonhar com a Marina, depois tive mais sonhos, mas este primeiro me marcou muito, por ter sido o primeiro e por tudo que ocorreu depois deste sonho.
No sonho ela estava em um hospital, vestida com a roupa de hospital, e eu precisei subir uma escadaria imensa para chegar ao local onde ela estava, um lugar bem diferente, ela me esperava em pé ao lado da cama, nos abraçamos e eu perguntei à ela se ela sabia o que havia acontecido, ela me respondeu que sim, eu disse que não queria que ela tivesse morrido, e ela me respondeu que era o que ela queria, então comecei a chorar e acordei aos prantos.
Neste dia eu fiquei muito mal, acredito que foi devido ter acordado do sonho preferia ter ficado dormindo sonhando com ela. Foi uma das manhãs mais difíceis que tive, chorei tanto que pensei em não ir trabalhar, meus olhos ardiam e minha cabeça doía. Mas me arrumei e fui fazer o que sempre faço diariamente e ao abrir a porta de casa me deparei com uma pena linda, grande, cinza e branca no corredor, acredito ser de uma pomba e eu não sei explicar o que senti, só sei que foi uma sensação muito boa.
A razão e a emoção brigam o tempo todo no luto, é um crer e não crer infinitos e eu acho que isso é devido a vida que levávamos antes, as crenças, a fé. Sou cristã católica e não acredito que mortos nos visitem, quem morre fica dormindo, esperando o julgamento e não creio que objetos inanimados tenham algum poder, mas a partir daquele dia não sei exatamente dizer o que aconteceu.
Marina dias antes de morrer, havia comprado uma caneta bico de pena, ela desde criança queria aprender a desenhar e nos seus últimos dias ela estava desenhando e ela queria uma caneta que realmente tivesse o formato de uma pena e fez o pedido para que minha mãe encontrasse uma pena para ela colar em sua caneta.
Não deu tempo desta pena chegar, ela morreu antes e no dia que sonhei com ela e coincidentemente encontrei aquela pena, minha razão foi embora, fiquei apenas com a emoção, e todas as vezes que encontro uma pena, eu pego e guardo.
Ela também tinha o hábito de pegar penas de seu travesseiro e dar para as pessoas, a capa do celular que era dela, tem vários desenhos de penas, dentro desta capa encontrei uma pequena pena branca, ela desenhava penas e deixou várias em uma pasta com as atividades da terapia.
Pode parecer bobagem, mas isso me faz bem. Eu encontro penas em locais bem inusitados, na terapia falei sobre isso e a resposta foi de que se me faz bem, não há problema algum, então continuo a recolher penas. No blog e em várias coisas que faço, existe a referência de penas de aves, fiz uma tatuagem com o nome dela e uma pena.
Com o tempo, descobri que alguns enlutados também tem suas formas de acreditar na presença dos seus entes queridos, a grande maioria tem a borboleta como referência, pois ela representa a transformação a metamorfose.
Não sei o que pena representa e eu me contento em encontrá-las, todas que achei até hoje, estão em uma caixinha e são muitas de vários tamanhos, cores e formatos. Essa foi uma forma que encontrei de me acalentar dessa vida que as vezes mais parece um pesadelo, não prejudica ninguém e me mantém viva.
Venho me esforçando para continuar bem e com a sanidade mental em ordem, e por isso digo que a razão e a emoção brigam o tempo todo no luto e as vezes deixar as emoções aflorarem mais é uma forma de continuar viva e os meus encontros com a Marina hoje só são possíveis em sonhos, através das penas e das lindas lembranças que ela deixou.
3 Comments
Olá Terezinha meu nome é Mariliz Gritten tenho buscado forças onde posso em um documentário já tinha conhecido sua história , perdemos meu irmão amado para o suicídio …tem dias que parece que a dor rasga o peito nossa família que somos agora eu mais 2 irmãos e minha mãezinha que até hoje e acho que nunca vou ter coragem de contar do que realmente ele se foi….acho que mataria o pouco de vida que sobrou pra ela , eu achava que ele amava a vida a notícia chegou como um tsunami Meu Deus lembrar desse dia é muito muito difícil.
O nome dele é Emerson Gritten nossa vida ficou cinza escura busco muita ajuda encontro vcs para poder falar dessa ferida que enquanto viver ela não vão fechar
Boa noite. Meu nome é Janaina. Perdi meu irmão, por suicídio, no dia 07/10 deste ano. Éramos só ele e eu, pois nossos pais já faleceram. Assim como eu, ele tinha depressão, estava buscando ajuda, mas o psiquiatra trocava frequentemente os antidepressivos, pois meu irmão queixava que não faziam efeito. Na verdade, ele não conseguia lidar com as feridas na alma, morte da nossa mãe e nem se permitir ser tratado, tinha muita dificuldade em se abrir, por mais que estivesse cercado de muitos bons amigos e tivesse acesso à psicoterapia também. Agora, estou muito, muito mal, provando várias emoções. Tive que ter meus remédios trocados também. A razão luta com as emoções o tempo todo. E, cerca de 1 mês depois, perdi uma amiga também (pancreatite). Tá um nó na minha mente e coração. Com 37 anos já perdi minha família toda. Moro sozinha, com meus cães. Tem hora que parece que vou enlouquecer ou morrer, de tanta angústia. Clamo o tempo todo ao Senhor Jesus e Espírito Santo que me ajudem, sustentem. Hj resolvi buscar no Google por grupos de apoio a pessoas que perderam alguém por suicídio. Achei este blog e estou lendo vários artigos, comentários…que Deus venha ajudar a cada um que, ou perdeu alguém por suicídio, ou o tentou… Jesus abençõe a todos!
Janaina, receba meu abraço.
Nada que eu venha a escrever aqui poderá tirar a angustia que você sente, mas posso te dizer que você não está só.
Falar com outras pessoas que passam pelo mesmo pode ajudar a compreender uma porção de coisas e acalmar seu coração. Ao menos para mim foi o que me fez estar aqui hoje, com esse blog e com o grupo de apoio, onde podemos falar sobre esse turbilhão de sentimentos que o suicídio deixa em nossas vidas.
Com carinho Terezinha