Suicídio, prevenção e as incoerências
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Eu poderia falar que estou conhecendo o que é a maior dor do mundo, a dor do luto de uma mãe que perde um filho por suicídio.
Falar de como é muito difícil uma mãe enterrar um filho, que não é natural, que deveria ser o contrário e ainda mais quando este filho resolve dar cabo de sua vida, decide que não quer mais viver.
Falar que além da dor da perda de ter que aprender a viver sem sua presença, ter que aprender a conviver com a dor, com a tristeza e com a saudades, ainda tentar entender que não houve culpa e buscar a resposta do porquê desta decisão.
É uma dor dilacerante, acredito que não há comparação com nada neste mundo.
Mas eu neste momento, prefiro falar da minha filha de como ela era e não da forma que ela se foi, pois o suicídio, não a definiria. O que a define é o que conheço como o “O maior amor do mundo”, trata-se do amor de uma mãe por seu filho, aquele amor verdadeiro que uma mulher conhece quando se torna mãe, que ela transmite e que recebe.
Um amor sem limites, aquele que a pessoa se esquece dela mesma para cuidar do outro, para ensinar , dar carinho, atenção, proteger de tudo, um amor sem igual que persiste mesmo depois da morte.
No meu caso, são dois amores, e o amor por minha filha caçula a qual eu dei o nome de Marina, um nome que eu escolhi quando eu ainda era adolescente, lindo e fácil de pronunciar, um nome cheio de significados: a que veio do mar, o pequeno porto, mas que para mim era simplesmente a minha Marina, uma mistura de Maria de mar e do verbo amar.
Uma filha que ao nascer só veio preencher e completar a minha vida e de nossa família. Falar que ela foi um presente de Deus, pois nascera um dia antes do meu filho mais velho completar 6 anos, e que ela foi uma pessoa que sempre nos encheu de ternura, de doçura, e que ela iluminava nossos dias com seu sorriso encantador, com sua forma divertida de ser, com sua simpatia, com sua gentileza e que só nos deu alegrias e orgulho no pouco tempo que ela esteve entre nós, por quase 20 anos e que nos ensinou muito.
Ensinou a sermos mais tolerantes, a gostar da cor laranja, de animes, ensinou que nem toda menina gosta de bonecas e de usar vestidos e que touca é um acessório usado também no verão.
Que ela sempre foi amada por todos que a cercavam, e sua partida nos deixou completamente sem chão, sem rumo, sem entender, sem aceitar. Falar que o que a define sempre será o amor que ela nos fez sentir e nos fez compartilhar, “o maior amor do mundo”, que para mim, sua mãe, será eterno e infinito.
SCAVACINI, KAREN (Organizadora). Historias de Sobreviventes do Suicídio. São Paulo: Instituto Vita Alere, Benjamin Editorial, 2018.
3 Comments
Que lindo Terezinha toda vez que leio seus textos me emociono a saudade aumenta e tem dias que é quase sufocante viver com essa saudade
Terezinha, sinto muito e imagino sua dor. Ao contrário de você, perdi minha mãe há um ano e sete meses e posso acreditar que ao inverter aquilo que chamam como a “ordem natural” da vida, o sofrimento seja irreparável. Uma dor muito maior que a minha.
Ler o que você escreveu me emociona porque acredito que minha mãe poderia ter escrito o mesmo em relação a mim.
O luto é um processo muito difícil. Eu compreendo e me solidarizo.
Grande Abraço
Muito lindo!! Sensível. E sinto que você falou por mim também….meu filho…o maior amor do mundo!!
💚💚