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20/09/2020Suicídio um grande tabu
Suicídio é um grande tabu e alguns especialistas no assunto dizem que o ato é uma forma de comunicação.
Já escrevi sobre isso e volto novamente com o tema pois desde quando ouvi sobre essa forma de comunicação me pego pensando nisso e percebo que a generalização do suicídio é algo que machuca mais e mais quem ficou, pois cada ser é único e complexo e a individualidade mesmo que em um contexto semelhante, pode produzir desfechos diferentes.
Suicídio e a Comunicação
E essa tal comunicação que tanto falam também é bem complexa, como tudo que envolve o tema suicídio. E então quando ouço e leio sobre a comunicação, que devemos ouvir o que o outro tem a falar lembro que a comunicação não é apenas a palavra, o falar, é o ler, o ouvir e o agir.
E essa comunicação falha entre quem se foi e quem ficou, cai como uma nota de descaso, não conseguir enxergar que o outro tinha um sofrimento tão intenso, não conseguiu ver a necessidade de tratamento ou algo assim só aumenta a culpa.
Estar na mesma Sintonia
Para mim, para que a comunicação seja clara, preciso ter no outro o entender, e isso às vezes não é tão simples, pois nem sempre o emissor da mensagem está na mesma sintonia do receptor, não há sintonia com o sentir do outro, não há conexão e às vezes quem tenta transmitir uma mensagem acredita que está sendo claro, mas o outro não consegue sintonizar o que foi dito, escrito ou demonstrado com atos, pois as conexões são outras.
Assim como algumas pessoas lerão estas palavras e não vão entender, outros com certeza dirão que me entendem, pois estas que entendem estão na mesma sintonia pois estão sofrendo da mesma dor.
Dou o meu exemplo, mesmo minha filha falando de morte, quando a encontrei caída, não imaginei a morte, imaginei um desmaio por fraqueza, pois ela não estava se alimentando corretamente. Nem o fato dela caída e desacordada, fez com que eu entendesse a mensagem.
A minha relação com a Marina era de diálogo, não havia assunto proibido, ela podia contar comigo e com o pai sempre, mesmo que nós ficássemos bravos ou não concordássemos com algumas coisas, sempre chegamos a um consenso, não havia assunto que não pudéssemos falar.
Assim como eu não entendi que ela poderia se matar, mesmo ela falando que a morte seria uma solução, ela também não entendia quando eu dizia que para tudo havia jeito, não entendeu que para a morte, não.
Um sinal de alerta
Quando ela disse que nós não precisávamos mais nos preocupar com ela que ela havia desistido da morte, eu entendi como uma melhora e não como um sinal de alerta, que era uma comunicação de perigo e ela não entendeu que sua morte nos traria muita dor.
Talvez não tenha sido falta de comunicação, foi falta de sintonia, eu tenho plena consciência que me comuniquei da forma que sei e ela também, mas nossas sintonias eram outras. Por mais que eu achasse que a entendia e a conhecia, eu me enganei.
Eu queria que ela ficasse bem mas ela não estava tendo esperança com relação a nada, eu via um futuro brilhante para ela e ela não conseguia enxergar o que eu via. Ela se desencantou com vida e eu tentava mostrar a ela uma vida que ela não conseguia mais ver.
Nossos pontos de vistas eram diferentes.
Eu a Marina sentíamos dores, mas diferentes, não quero medir dores, dores são dores, e só sabe do tamanho quem a sente. A minha era da mãe que via a filha sofrer e não sabia o que fazer para tirar a dor dela, e dela uma dor existencial, que ela não sabia nem como começava e nem como explicar e que buscava o alívio para a dor que ela sentia.
E por mais que todos ao redor tivesse se esforçado para ajudar, talvez no entendimento dela, ninguém poderia ajudá-la.
E todas as vezes que tentamos decifrar o que se passou na cabeça dela quando ela tomou essa decisão sem volta e tentamos supor algo baseado no que ocorreu antes, fica mais complicado de entender e nós ficamos rodando em círculos, sem sair do lugar.
Eu, depois de todo esse tempo, chego a conclusão e concordo com vários estudiosos no assunto:
Suicídio é um grande tabu.
Por séculos filósofos, médicos, religiosos, sociólogos e psicólogos se perguntam e enumeram motivos e buscam respostas, tentando decifrar o que levam alguém a desistir de viver e tirar a própria vida.
Muitos têm suas teorias baseados em estudos e pesquisas, mas mesmo com todos o emaranhado de suposições, nunca uma resposta irá acalentar e confortar quem ficou, pois até mesmo quem se foi, talvez não saberia responder a essa pergunta.
10 Comments
Vdd ,as respostas foram juntos com quem foi ,a dor e a saudade é muito grande,a culpa é o que mais me corrói por dentro …hj a única coisa que quero e espero é morrer logo p reencontra lá ….
Tente se livrar dessa culpa, é muito injusto com você! Eu tive (tenho?) depressão, nunca me passou pela cabeça cometer suicídio, mas a vida perde a cor, pensava “ah! se eu morrer não será ruim!”. Não há vontade de nada, nem de viver. Os dias são muito longos e pesados. É uma doença, há um desequilíbrio mental muito grande, por isso, não se culpe! Procure ajuda para viver, é o melhor que você pode fazer por você e pela memória dela.
Todos os dias penso na minha mãe que cometeu suicídio. Faz 2 anos e 5 meses que tento sobreviver com essa dor e com o sentimento de culpa. Sinto que falhei como filha, faltou diálogo, comunicação e tratamento adequado. Ela tinha depressão.
Não se sinta assim não. Se liberte disso. Tbm perdi meu pai por suicídio faz 1 ano e meio. No começo a gente sente culpa mas temos que trabalhar isso em nós. São várias particularidades. Quem faz isso não é normal. É doente e faria mesmo a qualquer momento.
A 6 meses me vejo nessa culpa, perdi meu filho é busco resposta, e você realmente uma verdade sobre a forma de comunicação, acredito que foi exatamente isso que aconteceu a falha na comunicação. Hoje estou dilacerada e destruída buscando motivação para continuar.
Sempre.escutamos ,lemos matérias , setembro amarelo,tentam alertar acordar bois pais,mas parece que com nossa família nunca vai acontecer,aí chega a notícia ,meu filho faz 5 meses que tirou sua vida por um relacionamento que não deu certo,eu conversava muito com ele,e na minha cabeça achava que estava bem,e não entendi as mensagens que ele estava me dizendo,porque achava que tava tudo bem ,hoje volto lá traz e penso que tinha que ter falado sobre aquelas pequenas coisas ,ele sabia o meu amor e cuidado de mãe por ele,aí vem a culpa que nos faz se sentir muito mal como mãe ,parece que a culpa é só nossa , então é um sofrimento sem fim
A sua reflexão a cerca da sintonia faz muito sentido para mim, perdi meu filho com 14 anos. A dor e o sentimento de culpa são insuportáveis mas a sua reflexão sobre a falta de sintonia faz muito sentido porque tive a sensação de que meu filho estava inacessível, parecia que estava desligado desse mundo e eu não encontrei uma forma de acesso ou sensibilizá-lo, por isso o sentimento de impotência. Suicídio é tabu, inexplicável e é uma dor que faz sangrar o coração.
Hj faz 36 dias que perdi meu filho por suicídio.
Tinha 22 anos, uma dor que me dilacera, uma dor sem fim, que nem nome tem. Estou sem chão, sem direção, tenho uma filha de 11anos, e estou sobrevivendo pela misericórdia de Deus, e por ela, porque não pode para a vida dela, por causa dessa tragédia, seria muita injustiça e egoísmo, é uma criança ainda.
Mas todos os dias acordo, e não sinto vontade de sair da cama, vontade de ficar trancada no escuro e não ver nada mais.
Nada mais faz sentido, nada mais tem graça, tudo perdeu a cor, meus dias são cinzas e nublados 😭😭
Estou sem forças até para orar!
Estou desse jeito ! 😭
Perdi minha filha vai fazer um mês. Estou destruída de corpo e alma. Nada mais tem sentido para mim . Estou orando muito para Deus me dar força. Gostaria de participar de algum grupo de apoio por favor !
Maria,
Sinto muito por sua perda.
Aqui nos site, em grupos de apoio, tem vários grupos com dia e horário e como fazer para participar é só clicar e verificar o que mais te agrada.
O nosso grupo, terá reunião on line, dia 13/04 as 19h30 para se inscrever, mande email para terezinha@nomoblidis.com.br.
Um abraço.