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A vida, o suicídio e as interpretações | Nomoblidis | Posvenção do Suicídio
A vida, o suicídio e as interpretações
31/12/2018
A Imortalidade | Nomoblidis | Posvenção de suicídio
A imortalidade
22/01/2019
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suicídio e comunicação | Nomoblidis | Posvenção de Suicídio

Suicídio como Comunicação

Mudou o calendário, já é 2019, ao mesmo tempo que conto os dias e os meses que a Marina se foi, agradeço por continuar seguindo em frente. É um verdadeiro paradoxo.

Consegui passar pelas festas de fim de ano até que bem, triste claro, mas não afogada em lágrimas e lamentações, lembrei dos bons momentos que pudemos viver juntas, das alegrias que ela me deu, enfim, sigo sobrevivendo.

Sobrevivendo a saudade que parece que só aumenta, sobrevivendo e dando passos quando falo e escrevo sobre o luto e coordenando o grupo de apoio e na tentativa de ajudar na prevenção e isso é algo verdadeiramente desafiador uma vez que os casos só aumentam. 

Parece que estão falando mais no assunto ou estou prestando mais atenção nos casos de suicídio que são veiculados na imprensa, antigamente só quando ocorria com alguém famoso, hoje noticiam muitas vezes de forma errada, não obedecendo a cartilha da OMS, mas o assunto está na mídia e na verdade não seria de estranhar já que conforme as estatísticas são 33 casos diários só aqui no Brasil.

E toda vez que leio notícias sobre alguma morte por suicídio fico imaginando a dor de quem se foi e na dor de quem ficou e me vem à cabeça a informação dos especialistas de que o suicídio é uma forma de comunicação, o ato seria uma forma de dizer algo que não se conseguiu dizer em vida e se em vida quem se foi não conseguiu partilhar suas aflições, quem ficou após a morte, como eu,  que já fica perdido sem entender nada com essa forma tão brutal de dizer algo,  fica mais confuso ainda com essa comunicação unilateral sem a possibilidade de feedback e na busca de tentar entender se houve a comunicação antes, os sinais, se eles foram claros o suficiente para ser entendidos ou se a  comunicação foi negligenciada, daí o sentimento de culpa.

Eu, depois que ouvi e li essa informação sobre a comunicação, tentei fazer uma retrospectiva de como era a minha comunicação com a Marina, e acabei entendendo que não foi falta de comunicação entre nós duas principalmente nos seus últimos dias de vida, talvez uma falta de coerência do que falávamos e de como agíamos, da minha parte, por ser mãe e tentar a todo custo mostrar que estava firme e forte ao seu lado, mas que na realidade estava preocupada demais e dela que tentava mostrar que estava conseguindo segurar a barra, e que na realidade nós duas fingíamos uma para outra, tentando passar um otimismo que na realidade nenhuma de nós tinha e que no fundo estávamos apavoradas com toda aquela situação.

Para mim, o suicídio da minha filha me comunicou que fracassei na tentativa de ajudá-la, que meu colo o meu abraço e o meu amor foram insuficientes para apaziguar o que ela sentia,  me comunicou que minhas orações não foram atendidas, me comunicou que não há nada pior de que se perder um filho e que é infinitamente difícil viver sem ele. 

E como uma forma de comunicação póstuma, entro novamente no campo das interpretações e que o suicídio talvez queira mostrar a falta de empatia em alguns casos, a falta de pertencimento em outros, a falta de amor, traumas não curados e vários sentimentos negativos, uma mistura de tudo isto, mas talvez comunicar o desespero de viver uma vida com uma dor tão intensa que não tem medicamento capaz de saná-la e a falta de perspectiva na vida, da dificuldade de se viver uma vida sem sentido. 

Mesmo nos casos onde há uma carta, um bilhete, essa comunicação não mostra a sua verdadeira face, mostra muitas vezes uma vontade de ir e ao mesmo tempo de ficar, as vezes rancor e algumas imputações de culpa, mas tudo com muita dose de pertubação.

No final do ano passado e no começo deste, alguns casos noticiados me chamaram muito a atenção, pois tratam de membros ativos de algumas denominações religiosas, filhos de pessoas famosas, de pessoas comuns, profissionais da área de saúde entre outros e eu comecei a fazer um apanhado desses casos e compará-lo com o que vivi. 

E praticamente todos  só confirmam a falácia de que o suicídio só acontece pela falta de fé e de Deus, e que há sempre a falta de cuidados de quem está próximo, principalmente no caso de adolescentes. 

Depressão, ansiedade e transtornos mentais acometem qualquer ser humano e não há imunidade e não escolhe nível social, credo, raça e que deve ser tratado como doença séria assim como as outras doenças,  a fé, a religião são fatores de proteção, mas que nem sempre é totalmente eficiente, assim como o cuidado dos pais e de pessoas próximas e que definitivamente não há onisciência, onipresença e onipotência em ninguém e que o suicídio ocorre em todo tipo de família. 

Que as escolhas na vida podem realmente minar a vontade de viver e que fazer piada e rir de tudo para camuflar a dor, pode ser um caminho sem volta e que se a pessoa em sofrimento não pedir ajuda, não há como ler pensamento e ajudar, principalmente se ela diz e age como se estivesse tudo bem.

Não é para chamar a atenção que muitos buscam a morte é por desespero e por não ver uma saída, uma luz no fim do túnel. Talvez as pessoas que se foram deveriam ter a impressão que suas vidas serão apagadas das vidas de quem ficou e que todo o sofrimento pelo qual passavam pode até terminar quando elas  se vão, mas irá permanecer na vida de quem ficou por um longo tempo ou para sempre.

26 Comments

  1. Marcia disse:

    Obrigada Terezinha…
    Você sempre expressa em palavras meus sentimentos…

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Márcia, acredito que amor de mãe por um filho seja o sentimento mais puro e duradouro que existe, vai além da vida.
      E por ser assim, nosso luto é mais intenso.
      Mas o amor que elas nos deu e que deixou é que nos faz seguir em frente.
      Um grade abraço.

  2. SALVADOR FARIA disse:

    Muito objetiva essa explanação, resumo fiel do sentimento de cada pessoa que vivência esse luto de perder um ente querido por suicídio, viveremos para entender algo que possivelmente nunca teremos uma definitiva explicação.

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Salvador, uma luta diária para seguir em frente, com a dor da perda e cheia de perguntas que nunca terão respostas.

    • LEILA SOUZA disse:

      É bom ler esse texto e ver que uma mãe que perdeu um filho por suicidio como eu pode chegar um nivel tão avançado de elaboração sobre o que ocorreu e todos os sentimentos envolvidos. Gratidão.

  3. Salvador Faria disse:

    Bonito texto

  4. Maria Inês disse:

    Seus textos são sempre muito bons Terezinha. Cheios de verdade, compaixão e amor. Parabéns!

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Obrigada Maria Inês.
      Acredito que o amor por nossos queridos filhos é que nos move dia após dia.
      Abraços.

  5. Maria Eunice disse:

    Expressão de amor em cada palavra♡

  6. Verônica disse:

    Quase dois anos da partida do meu pai. A pessoa mais alegre que já conheci, mas a mais emotiva também…chorava muito facilmente. Nunca relacionamos com a depressão, pois eram muitas risadas, muitos amigos…
    Não deixou uma explicação sequer. Apenas decidiu ir, em um dia de verão que poderia ter sido normal.
    A dor aliviou, mas o fato de não ter percebido nada, sendo que diariamente estávamos juntos, incomoda demais.
    A vida segue, mas não com a mesma alegria.
    Acho que será uma eterna busca de entusiasmo e esperança para não esmorecer.
    Força e fé a todos e todas! 🙏😘

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Verônica, sinto muito por sua perda.
      Realmente essa impressão de que não vimos os sinais é que nos deixa com a sensação de culpa, mas como prevenir algo sem saber como agir?
      Mas seguimos adiante, quebradas juntando os cacos e aprendendo a lidar com a dor.
      Um grande e forte abraço.

  7. Elaine Spisso Barrella disse:

    Sou uma sobrevivente a 2,5 anos desde que meu marido se foi. A dor continua e não sei se algum dia vai melhorar. O que me faz escrever aqui é o fato que depois do que aconteceu comecei a me interessar pelo assunto. Eu e as pessoas que conviviam com suicidas não tínhamos/ temos como perceber os tais sinais simplesmente porque não temos informações suficientes a não ser se formos procurar por conta própria, mas na maioria dos casos nem imaginamos que alguém que está tão próximo possa cometer esse ato. Veja por exemplo o setembro amarelo: nesse ano que passou quase não se ouviu falar! Quantas pessoas nem sabem do que se trata. Muitos profissionais da área de psiquiatria ainda não dão a atenção devida ao assunto e falo isso por experiências que passei. Então, afim de evitar que esse mal devaste cada vez mais famílias, precisamos lutar por informação e divulgação, pois sobra preconceito e falta interesse quando se trata de lidar com o assunto suicídio. E, se tentar prevenir é a melhor maneira, as pessoas precisam conhecer como. Acredito que a nós sobreviventes do suicídio resta essa missão de lutar para informar e não conformar!

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Elaine, sinto muito por sua perda.
      Concordo com tudo que você disse, falta informação, básica inclusive. E se até área de saúde há preconceito e desinformação, imagine no restante dos setores.
      Mas enfim, precisamos falar e muito no assunto, pois só há prevenção com informações corretas.
      Um grande e forte abraço.

    • Lilian Menezes disse:

      Terezinha qta sabedoria…hj faz 7 meses q enterrei meu tão amado esposo….era uma pessoa extremamente alegre(ao ponto de q qdo aconteceu algumas “pessoas” pensavam q eu teria tirado a sua vida) e ao mesmo tempo uma pessoa muito emotiva( daquelas que num simples programa de tv de domingo chorava litros) era depressivo,porém não aceitava a depressão e sempre dizia não ter coragem de tirar a própria vida qdo assistíamos algo relacionado ao Suicídio.. me perguntei e ainda me pergunto “onde eu falhei?”… A dirá cada dia q passa só aumenta 😭 o pai

  8. Renata disse:

    Repito novamente que é uma pena e muito triste. … como sinto muito que um ato de desespero as vezes momentâneo pode não ter volta. ..

    • Suzete Canhassi disse:

      Lilian,
      Sinto muitíssimo por sua perda…… Apesar de talvez não acreditar, não existe eu falhei, porque você não á a dona da vida do outro, por mais amor que você tenha pelo outro, a decisão ( com certeza a mais difícil que ele tomou) foi dele, mas saiba que com certeza o sofrimento emocional que ele estava vivendo era imensurável para tomar a decisão de desistir da sua própria vida. A depressão é uma doença que mata, e que chega de mansinho. Ela é silenciosa e por isso tão dificil de ser percebida. Viva um dia de cada vez. A dor faz parte do luto.

  9. Maria Dalva Aquino disse:

    Perdi dois filhos vítimas do suicídio,Minha vida acabou …

  10. Rosana luz disse:

    Meu filho partiu a cerca de um mês dessa forma,e nesse texto você retrata exatamente o que todos sentimos,e ainda tendo de lidar com a dor,a culpa,temos que lidar com o preconceito e falta de informações das pessoas que nos massacram o tempo todo com perguntas e frases sem sentido. Gratidão por suas palavras.

  11. Luciane Rippel disse:

    Terezinha, acessando seu blog por ter encontrado uma indicação enquanto estudava a questão. Sou psicóloga na saúde pública, também sou voluntária do CVV. Sabe, quanto mais estudo, mais percebo que existem realmente multifatores para uma morte por suicídio., que a tendência a desenvolver culpa é muito presente nos enlutados, inclusive nos profissionais. Lendo teu depoimento e os comentários só consigo pensar num caminho, a aproximação e compreensão humanas…muito além da técnica.
    Abraço grande

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Luciane, obrigada por sua mensagem.
      Eu escrevo o que sinto e uma grande porção de pessoas em luto pelo suicídio também sentem e a culpa em muitos familiares vem justamente do discurso de que há sinais e que o suicídio poderia ser evitado por quem estava ao redor e então quem não evitou não deu atenção, não acolheu quando deveria e não conseguiu entender essa comunicação que tantos profissionais falam, o que faz com que muitos enlutados se calem por causa desses julgamentos.
      No caso dos 90% que tanto se bate na tecla e que muitos tem se falando da forma teórica, parece ser simples, toma um remedinho, faz terapia, já que é um problema de saúde mental e pronto, caso resolvido.
      Mas que não é bem assim é muito mais complexo do que se imagina e que a compreensão humana em alguns casos não consegue ultrapassar as técnicas.
      O que mais vi nestes 3 anos e 4 meses depois da morte de minha filha são profissionais que desprezam o ponto de vista de quem fica, muitos ficam citando frases prontas de alguns estudiosos e dorcendo o nariz quando uma mãe como eu fala alguma coisa que contradiz suas teorias e técnicas aprendidas em livros, esquecendo que somos seres únicos e cada caso é um caso.
      Escutei neste tempo todo casos e mais casos de suicídios e nenhum é igual ao outro, a não ser a dificuldade de lidar com uma dor existencial sem medida, mas o que causou essa dor existencial, nem mesmo quem se mata saberia dizer quanto mais as outras pessoas.
      Um grande e forte abraço.

  12. Gabriela disse:

    É, Terezinha… é isso mesmo. Ficam para sempre o amor e a dor.

  13. Danielle disse:

    Olá minha querida!
    Nosso caminho é árduo e acredito que sempre existirá muitas dúvidas e muitas perguntas ficaram sem respostas! Desde que meu único filho filho se foi, seus escritos, relatos, livros tem me ajudado muito. Porém esse texto me deixou um pouco confusa, tendo em vista que vc expressa que sente-se culpada por não ter sido suficiente e/ou não ter compreendido os sinais.
    Acredito que viver com esses sentimentos pioram ainda mais nossa condição, pois seria e é a maior de todas as punições que uma mãe pode sofrer, e eu pergunto o que nós vamos fazer com essa culpa? Se é algo irreversível. Já é tão difícil viver sem nossos filhos e carregar uma culpa e um fracasso dessa proporção fica muito pesado, fazendo até pensar que não há razão para permanecer aqui nesse mundo. E já existe tão grande desprezo e abandono por parte de muitas denominações religiosas, você está afirmando que de fato que na vida de nossos filhos faltava fé e faltava Deus, confirmando assim a fala de religiosos.
    Gostaria que se fosse possível falar comigo através de e-mail ou por telefone, (tenho cadastro em seu grupo de apoio) pois talvez eu tenha entendido tudo errado.
    Desde já agradeço sua dedicação em partilhar tantas experiências e tentar amenizar o sofrimento de tantos sobreviventes!

    • Terezinha C. G. Maximo disse:

      Oi Danielle,
      No texto eu tento explicar que se, suicídio é uma comunicação, como os profissionais apregoam, o suicídio da minha filha me comunicou que sou um fracasso, pois não entendi a comunicação prévia, “os sinais” que tanto dizem existir e fácil de ver.
      E que não concordo com este tipo de expressão, “comunicar com a morte, algo que não disse em vida” e que para mim não passa de especulação e que isso só aumenta a culpa de quem fica e quem mais se sente culpada e é julgada quando um suicídio acontece é a mãe então, principalmente se for mãe de um adolescente.
      Com relação a fé, tento colocar que a pessoa pode ter uma religião e que pode ajudar em alguns pontos, porém, não o imuniza de qualquer transtorno mental e que é visto por muitos como algo ligado a força de vontade, maldição.
      Um abraço.

  14. Danielle disse:

    Muito obrigada pelo retorno, eu compreendi e concordo com seu ponto de vista de que não existe um roteiro, não é igual para nenhuma família, cada caso é único. Grande abraço!

  15. Danielle disse:

    Muito obrigada pelo retorno, Agora compreendo.
    Grande abraço!

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