Fé e religiosidade
23/02/2018O primeiro ano do resto de nossas vidas
14/03/2018Os pertences
Tem quase um ano que a Marina nos deixou para nunca mais voltar e o quarto que foi dela continua montado, com os pertences que um dia foram dela.
Confesso que criticava enlutados por seus apegos materiais deixados por seus entes queridos, e falar e criticar sem saber como é estar em certas situações é muito fácil, difícil é viver essas situações.
Criticava dizendo que eram apenas bens materiais e que as boas recordações deixadas eram imateriais e essas não seriam apagadas, eram eternizadas na memória.
Mas, mais um engano. Agora sei que não é bem assim. Pode ser material, mas cada coisa deixada tem uma história, faz parte de um contexto e no meu caso, preciso de mais tempo para conseguir assimilar a ideia. Esse apego aos pertences é algo que preciso trabalhar muito, ainda me machuca a ideia de desfazer das coisas que eram dela.
Algumas pessoas se desfazem logo dos pertences de seus entes queridos, como uma forma de não sofrerem ao verem os bens. Ou até mesmo como conscientização de que aquilo deixado não terá mais utilidade naquele lugar. Mas eu não quis doar nada. Não queria nem que me perguntassem sobre as roupas, os livros, nada. Para mim, tirar algo que foi dela do quarto, era uma forma de violação.
Só em agosto do ano passado consegui doar algumas coisas, algumas peças de inverno. Pensei da seguinte forma: “Ela não vai precisar mais das blusas, das calças, de mais nada, mas tem pessoas lá fora que precisam.”
Foi assim que consegui doar, pois lembrar o quanto ela era muito generosa me fez bem. Ela doava os livros que ela lia, até os que ela mais gostava. Coleções completas que ela demorou anos para montar, ela doou. Doou um Vídeo Game e ficou anos sem, e ela amava jogos de vídeo game.
Mas não sou tão generosa quanto ela era, pois depois da doação das roupas de inverno, não consegui mexer em mais nada, ainda sou apegada aos bens materiais.
A prateleira com os livros, o violão, a escrivaninha estão exatamente do jeito que ela deixou. O quarto que era dela virou um santuário. Onde eu ainda posso até sentir o seu cheiro.
Sei que um dia terei que esvaziar o guarda roupas, tirar os pertences, mas estou me dando um tempo para isso, por enquanto não vejo necessidade.
Já houve sugestão de fazer uma caixa de lembranças, guardar apenas algumas coisas, algumas peças de roupas, alguns livros, objetos que ela mais gostava, mas penso que será necessário um baú e bem grande pois há muita coisa e cada coisa com o seu significado.
Foram 20 anos que convivi com a Marina, os melhores anos de minha vida sem dúvida, 20 anos de lindas recordações e que os pertences que um dia foram dela me ajudam a contar a nossa história e me acalentar nos momentos de tristezas e aflição.