Passar o tempo
11/11/2017O luto do sobrevivente
14/11/2017A morte muda tudo
A única certeza que temos na vida é a morte que um dia chegará e a morte muda tudo. Não sabemos, quando onde e como, mas ela virá. E o assunto morte é tratado como tabu em nossa sociedade. Ninguém quer falar sobre isso e não estamos preparados para morrer e tão pouco para perder alguém.
Confesso que fazia parte deste meio que odiava falar sobre morte, papo chato, triste e dolorido. E quando eu me vi frente a frente com a realidade dura e cruel de perder para sempre alguém que eu amo, senti o quão eu sou vulnerável e que não sou nada diante de algo tão grande.
Já havia perdido algumas pessoas queridas em minha vida, tias, avós, avôs, primos, mas a realidade era outra, sofri com essas perdas, sentia saudades, chorava com lembranças, mas nada comparada com o que vivencio com a morte da minha filha, uma dor sem igual que sou incapaz de descrever.
Não consigo descrever primeiro porque trata-se de uma filha e segundo que sua morte foi decorrente de suicídio, pois além da dor da perda ter que lidar com a dúvida se haveria ou não a possibilidade de ter evitado ou tentar descobrir em que parte eu errei na missão de cuidar e proteger é torturante. E só quem passa ou passou por algo semelhante consegue imaginar o que estou sentindo.
É muito difícil uma mãe ter que enterrar um filho, não é natural, deveria ser o contrário. Quando me tornei mãe tive a esperança de criar meus filhos para uma vida plena e feliz, queria ver a Marina formada, bem empregada, com uma família, qualquer que fosse a forma de família que ela achasse conveniente e a realizasse, que ela viajasse muito como ela sempre desejou, que vivesse rodeada de amigos, que eu ficaria com meus cabelos branquinhos e cheias de rugas vendo nossas fotografias e rindo de nossas lembranças, mas infelizmente nada disso irá acontecer a morte levou a Marina cedo demais e desfez os meus sonhos e mudou tudo.
Todos os dias eu sinto falta do olhar dela, do sorriso, da sua voz, das gargalhadas que ela dava e a alegria que ela transmitia. Sinto falta de nossas conversas, do seu perfume, de seu abraço, dos nossos cafés, de nossas trocas de experiências, eu contando minhas histórias ela contando as dela, rindo das besteiras e da minha demora em acompanhar alguns assuntos.
A morte muda tudo, agora eu não sou a mesma pessoa de antes. Outro dia li que a morte é um buraco e que depois que perdemos alguém querido, passamos a ser carregadores de ausências. Sim, passei a viver com um buraco. Não me tornei uma pessoa amarga, mas passei a ver o mundo de uma forma diferente, de repente tudo ficou cinza, não há mais cor, parece que fiquei na escuridão.
Mas estou aprendendo que o tempo do luto cada um tem o seu e o luto por suicídio é mais complicado e ele deve e precisa ser vivenciado e acolhido para que se possa aos poucos encontrar uma nova forma de enxergar as cores e a luz que outrora se via.
4 Comments
Ah Terezinha…você sempre escrevendo o que eu sinto…
….muito difícil uma mãe ter que enterrar um filho, não é natural, deveria ser o contrário. Quando me tornei mãe tive a esperança de criar meus filhos para uma vida plena e feliz, queria ver a Marina ( Isabela) formada, bem empregada, com uma família, qualquer que fosse a forma de família que ela achasse conveniente e a realizasse, que ela viajasse muito como ela sempre desejou, que vivesse rodeada de amigos, que eu ficaria com meus cabelos branquinhos e cheias de rugas vendo nossas fotografias e rindo de nossas lembranças, mas infelizmente nada disso irá acontecer a morte levou a Marina(a Isa) cedo demais e desfez os meus sonhos e mudou tudo.
Eu sei o que é isso, Terezinha. Há quase três anos carrego esse buraco no peito. Não tem conselho, abraço, leituras, palavras, que consigam restaurar o coração arrancado do peito de uma mãe que perdeu sua/seu filho/filha. É um vazio tão grande que quase sufoca. A única coisa que dá vontade é ficar quieta num canto olhando para a parede. E, ao menos para mim, derramar lágrimas diante de Deus, em conversa com Ele sem tempo para terminar. Realmente, tudo fica cinza, tudo perde a razão de ser, perde sentido. Como você e a Márcia disseram aí em cima: “A morte levou a Vivian/Marina/Isa cedo demais e desfez.meis sonhos e mudou tudo…
Eu sou filha. E decidi me matar na terça, 7h. Sofro muito em pensar na minha mãe, minha melhor amiga. Sofro muito em pensar como meu irmão vai ficar. Sofro muito em pensar que nunca vou usar aquele vestido branco e ver o meu namorado me esperando.
Mas já chega. Hoje foi a gota d’água. Sou um fracasso. Minha vida é uma desgraça. Nunca vou ser feliz. Nunca vou me formar. Nem sei no que sou boa. Só sei o quanto sou burra. O quanto sou feia. O quanto sou incompetente. Só quero que eles fiquem bem. Não será culpa deles. É minha culpa. Só minha.
A única coisa que ainda tenho dúvida sobre terça é: será que vai dar certo? Não quero ficar viva com sequelas. Será que vai doer muito? Quanto tempo? Será que a mãe e o meu irmão ficarão bem depois de um tempo? Será que meu namorado vai encontrar uma pessoa que mereça ele?
Não posso medir sua dor, imagino que realmente seja muito grande, mas se você pensa na dor que causará a quem te ama, pode pensar que talvez esse seu sofrimento possa passar.
Não tenho respostas para todas as sua perguntas, mas com certeza de uma eu tenho, quem fica morre junto, não literalmente, mas aos poucos, assim sou eu, assim são muitos que perderam seus entes queridos dessa forma.
Pense com carinho.
Um grande e forte abraço.